sábado, 1 de abril de 2017

FILMED+: Mulheres do Século XX

Billy, Elle, Annete, Greta e Lucas: uma família diferente

Confesso que tenho um estranho vínculo com os filmes de Mike Mills, não que eles tenham alguma relação direta com minhas vivências, mas a forma como o diretor de 51 anos conta suas histórias me envolve plenamente.  Ao ver seus filmes eu sempre me surpreendo e, quando termina, eu imagino que eu teria contado a história daquele mesmo jeito. Embora sua carreira conte vários com curtas, vídeos e documentários, o diretor assinou recentemente seu terceiro longa de ficção (os anteriores foram Impulsividade/2005 e Toda Forma de Amor/2011). Em Mulheres do Século XX ele consolida sua forma particular de filmar e ainda conseguiu sua primeira indicação ao Oscar (na categoria de melhor roteiro original), embora o longa merecesse aparecer em, pelo menos, mais umas três categorias. Ambientado em 1979, Mills conta a história do adolescente Jamie (Lucas Jade Zumann) e sua mãe Dorothea (Annete Bening, indicada ao Globo de Ouro de Melhor Atriz de Comédia). A vida de Dorothea teve lá sua dose de pioneirismo, mas depois do divórcio coube a ela trabalhar e cuidar do filho sozinha. Para ajudar nas despesas da casa ela aluga alguns quartos, assim, convive constantemente com seus inquilinos, William (Billy Crudup) e Abbie (Greta Gerwig). Ele ajuda a fazer os reparos na casa e seu jeito rústico se equilibra com um certo tempero zen que instiga a moderninha Abbie - que estudou arte e desde a primeira cena já deixa claro que tem problemas de saúde. O grupo de personagens ainda conta com Julie (Elle Fanning), filha de uma terapeuta, melhor amiga de Jamie e que não está muito interessada amorosamente pelo mocinho. Aos poucos nos damos conta de que o quinteto forma uma família incomum, onde William não está disposto a ser o homem da casa, Abbie parece um irmã mais velha (que apresenta Jamie à nata do discurso feminista e à música punk) e Julie alterna no papel de irmã, filha e primeiro amor do protagonista (enquanto enxerga tudo com um distanciamento que parece inspirado por sua mãe e os grupos de terapia grupal que frequenta desde pequena). Mills constrói o filme misturando a história de cada personagem com um pouco do tempo em que viveram - e um certo desajuste de cada um deles. Todos estão tentando se situar na vida de alguma forma, seja a mãe experiente ou o menino de quinze anos que aos poucos constrói sua própria identidade. O mais interessante do filme é como a narrativa é feita pelos recursos empregados por Mills. Da narração em off que se alterna entre os personagens (destaque para a de Dorothea analisando aquele tempo com o olhar de quem viveu até várias décadas depois) passando pelos breves históricos da vida de cada personagem, além do uso de fotografias, vídeos antigos e trilha sonora esperta. Mills homenageia aqui o momento em que as mulheres já deixavam de ser apenas mães e donas de casa para se tornar senhoras de próprio destino - mas sem perder de vista os homens que presenciaram essa transformação e tiveram que se reinventar também. Mills não se preocupa em criar uma narrativa de início, meio e fim, construir vilões ou momentos avassaladores, prefere deixar a história se desenvolver quase que por conta própria, dando pinceladas gradativas na definição de cada personagem e sendo sincero justamente pela forma como aprofunda os laços que se estabelecem. Oscilando entre a leveza e a densidade, há de se destacar que é a primeira vez que o diretor tem o foco em personagens femininas e o resultado ainda agradará poucos - o filme teve sérios problemas de distribuição nos EUA e só estreou em grande circuito em meados de janeiro deste ano -, mas ainda assim é uma beleza de assistir. Já aguardo o próximo filme, meu amigo Mills!

Mulheres do Século XX (20th Century Women/EUA-2016) de Mike Mills com Annete Benning, Lucas Jade Zuman, Greta Gerwig, Elle Fanning e Billy Crudup. ☻☻☻☻

Um comentário:

  1. Adoro os filmes de adolescência e juro que é meu gênero preferido. A historia está bem estruturada, passou as minhas expectativas, em sério é uma história super bonita e os personagens são as coisas mais fofas do mundo. É um dos melhores do gênero de drama que estreou o ano passado. Definitivamente eu recomendo. É impossível não se deixar levar pelo ritmo da historia. Considero que consegue o seu objetivo de nos informar e inclusive nos faz pensar sobre o tema. Adorei as criticas do filme, obrigado por compartilhar.

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