sexta-feira, 14 de abril de 2017

Na Tela: Um Homem Chamado Ove

Ove e suas vizinhas: humor negro e sensível. 

Ove é um senhor um tanto rabugento que vive sozinho e que acaba de sair do emprego. Ele também não consegue se adaptar muito bem a um mundo onde as pessoas passam mais tempo no celular do que conversando umas com as outras. Ele também não gosta dos aplicativos e apetrechos que facilitem a vida. Ove preferia o mundo como ele era antigamente, de preferência quando a esposa era viva e lhe fazia companhia todos os dias. Devido a essa sensação de desajuste, Ove decidiu dar fim à própria vida. Só que por sorte (ou seria azar?) sempre que tenta, algo o impede - e o deixa ainda mais impaciente. Baseado no livro de Frederick Backman (que vendeu mais de 700 mil livros ao redor do mundo), Um Homem Chamado Ove poderia ser apenas um feel good movie, se não optasse por ser uma comédia de humor negro - que é uma delícia de assistir! Especialmente pela forma como o diretor Hannes Holm conduz sua narrativa entre o presente e as lembranças do protagonista. Ove (o veterano Rolf Lasgaard), enquanto tenta se matar, conta para a plateia como foi sua vida até ali, desde a infância. Do relacionamento com o pai, do primeiro encontro com o amor de sua vida, a professora Sonja (Ida Engvoll), os desentendimentos com o ex-melhor amigo... sempre pontuando o que havia de bom e de trágico em sua vida. Aos poucos, percebemos as várias nuances do personagem, descobrimos os motivos de seu mal humor e, ao mesmo tempo, acompanhamos como ele reencontra gosto pela vida - especialmente quando começa a se aproximar dos novos vizinhos, o casal Patrick (Tobias Almborg) e Parvaneh (Bahar Pars), além das duas filhas pequenas (Nelly Jamarani e Zozan Akgun) que adotam Ove como avô. A narrativa que investe no que há de cômico no cotidiano do personagem (que envolve ainda uma simpática gatinha da vizinhança), aliada à fotografia caprichada ajudam a equilibrar o filme perante o que a trajetória do personagem possui de mais sombrio (afinal, é quase um inventário sobre formas de se suicidar).  É interessante notar como o filme se ampara na rotina repetitiva do personagem para demonstrar as mudanças que ele atravessa (sem perder a chance de fazer graça quando ele tem um infarto nos braços de Parvaneh). Conforme os personagens se aproximam de Ove, sua vida ganha novos sentidos - além de servir de analogia para as transições que o próprio país atravessou. Não deixa de ser interessante que, ainda que seja nostálgico e um tanto saudosista (especialmente com uma marca de carro específica), a história de Ove é atravessada por imigrantes, homossexuais e pessoas com deficiência num retrato bastante natural da diversidade na Suécia. Indicado aos Oscars de Melhor Filme Estrangeiro e melhor maquiagem, Um Homem Chamado Ove pode ser uma bela surpresa para quem não conhece a inventividade do cinema sueco. 

Um Homem Chamado Ove (En man som heter Ove/Suécia-2015) de Hannes Holm com Holf Lasgaard, Bahar Pars, Ida Engvoll, Tobias Almborg e Nelly Jamarani. ☻☻☻☻

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