domingo, 23 de abril de 2017

Na Tela: Paterson

Driver: a poesia do cotidiano segundo Jim Jarmusch

O americano Jim Jarmusch nasceu em Ohio no ano de 1953 e desde que resolveu ser cineasta nos anos 1980, ele ajudou a moldar a estética do cinema independente dos Estados Unidos. Com Estranhos no Paraíso (1984) e Daunbailó (1986) ele se tornou um diretor cult com filmes ansiosamente aguardados pelo seu público - que no Brasil sempre garante que seus filmes entrem em cartaz. Seus fãs são tão entusiasmados que sempre que um de seus filmes estreia no Festival de Cannes ele fica entre os favoritos na corrida pelo Oscar - e sempre acaba esquecido na reta final. Ano passado foi a vez de Paterson ser acolhido pelos fãs e ser exaltado pela crítica -  mas também foi totalmente ignorado nas premiações mais importantes. Basta ver os minutos iniciais do filme para entender o motivo. O longa acompanha o cotidiano de um motorista de ônibus chamado Paterson (Adam Driver) que dirige pelas ruas da cidade chamada... Paterson. O motorista escreve poesias como hobby e para passar o tempo ainda passeia com o cachorro chamado Marvin (que ganhou o sempre simpático Palma Dog em Cannes), joga conversa fora num bar e incentiva a esposa (Golshifteh Farahani) a investir na venda de cupcakes. A maioria das pessoas não irá perceber nada de extraordinário no filme, mas o desafio proposto pelo diretor é capturar o que existe de especial no dia-a-dia de personagens comuns. Para isso, não poupa o espectador de acompanhar o despertar matinal de seu protagonista, suas caminhadas até o trabalho ou a forma como escreve suas poesias sobre caixas de fósforos ou uma canção que ouvia na infância. Assim, mesmo quando parece que haverá algo espetacular no filme (quando o ônibus quebra na rua ou um homem aparece armado no bar), Jarmusch faz questão de contornar as situações da forma como a maioria das pessoas faria. Embora o cineasta tenha o mérito de conduzir o filme como se fosse um poema visual às pessoas comuns, a alma do filme é a atuação de Adam Driver (que ironicamente tem o sobrenome que em inglês significa motorista). O ator revelado na série Girls é bastante sutil, mas evidencia a sensibilidade do personagem a cada sorriso tímido, seja quando está ao lado da esposa ou presta atenção nos diálogos dos passageiros de seu ônibus (e os fãs de Moonrise Kingdom/2012 de Wes Anderson terão uma bela surpresa) e mesmo quando um colega de trabalho sempre reclama da vida. Graças ao ator que as intenções do diretor ganham corpo e cada fato cotidiano ganha cores especiais, seja o encontro com uma jovem poetisa ou quando uma "tragédia" acontece perto do final do filme. Paterson não pretende explorar os artistas incompreendidos,  crises no casamento, a violência urbana ou temas da moda, ao contrário, o humor sutil e os diálogos sempre recaem na poesia, algo que torna o cotidiano do personagem dotado de leveza e algum encantamento. 

Paterson (EUA/2016) de Jim Jarmusch com Adam Driver, Golshifteh Farahani, Jaden Michael, Barry Shabaka Henley, Frank Harts, Brian McCarthy e Nellie (o cachorro). ☻☻☻☻

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