domingo, 23 de abril de 2017

PL►Y: Já Não Me Sinto em Casa Nesse Mundo

Elijah e Melanie: mistura das boas. 

Já Não me Sinto em Casa Nesse Mundo chegou no Netflix algumas semanas após ser premiado no Festival de Sundance deste ano e gerou várias discussões (que irei explorar depois). O filme do estreante Macon Blair é uma verdadeira montanha russa de emoções ao contar a história de Ruth (Melanie Linskey), uma mulher deprimida que trabalha num hospital e não bastasse seu estanhamento diante da hostilidade do mundo, ela ainda tem a casa assaltada. Se a vida de Ruth já era vivida sem muito entusiasmo, ela poderia piorar sem o notebook, a coleção de talheres de prata herdade da avó e a sensação constante de insegurança dos dias atuais. No entanto, ao conhecer o vizinho Tony (Elijah Wood, bem divertido), um baixinho amante de artes marciais e rock pesado, ela tenta recuperar seus pertences. Primeiro colabora com a polícia, depois ela resolve fazer o serviço por conta própria e se envolve em uma série de eventos estranhos (com personagens mais esquisitos ainda). Quanto mais a narrativa avança, mais o filme se torna diferente daquele início lento e carregado do estilo que tornou o cinema indie americano conhecido mundialmente. Macon Blair tempera o filme equilibrando violência com bastante humor negro. O resultado surpreende com uma inquietação cheia de frescor que é muito bem vinda aos filmes de pequeno orçamento dos EUA. Além da dupla protagonista afiada, o filme conta ainda com uma hilária participação de Christine Woods como uma dona de casa entediada. É um filme que se torna gradativamente mais interessante, misturando drama, comédia, suspense e até um pouco de romance, mas que talvez caísse no limbo dos distribuidores brasileiros que demoram séculos para lançar esse tipo de filme por aqui (e às vezes saem direto em DVD, se saírem...). A compra de Já Não me Sinto em Casa Nesse Mundo pelo Netflix gerou debates sobre o impacto negativo da empresa na distribuição de filmes. O debate cresceu ainda mais com a aproximação do Festival de Cannes - principalmente por ter selecionado a produção "Original Netflix" Okja com Tilda Swinton para disputar a Palma de Ouro,  o prêmio máximo do Festival. A oferta de filmes inéditos no catálogo pelo serviço de streaming gera cada vez mais insatisfação entre os empresários, já que o Netflix está atento nos festivais independentes, comprando os direitos de exibição dos filmes  pela internet e inflamando discussões sobre o enfraquecimento da experiência cinematográfica através do serviço - e, principalmente, do lucro nas bilheterias. Se por um lado a discussão tem lá sua razão, por outro, os distribuidores também tem sua parcela de culpa ao privilegiarem as grandes produções em detrimento das menores. No Brasil apenas (as poucas) salas voltadas para filmes de arte se dedicam a exibir filmes indies - isso quando eles conseguem espaço (e nessa queda de braço, os nomes menos famosos costumam sair perdendo). É uma ilusão imaginar que os shoppings irão ceder espaço para filmes pequenos em pé de igualdade com os blockbusters, afinal filmes pequenos costumam ter bilheterias mais modestas que as superproduções - mas outros dirão: "como alguém pode gostar de filmes de orçamento modesto se tem acesso somente aos produzidos pelos grandes estúdios?". Boa pergunta. Some isso ao espectador que curte a comodidade de ver o filme na comodidade de casa, sem os gastos com deslocamento, lanches e estacionamento, além de poder pausar o filme para ir ao banheiro e sem o empecilho do bando de espectadores conversando, fazendo graça e atendendo celulares dentro do cinema (eu mesmo já perdi a conta das vezes que pedi para ficarem em silêncio durante a sessão e, geralmente, ainda escuto ofensas). Pois é, a experiência cinematográfica também tem seus efeitos colaterais.  Enfim, engana-se quem pensa se tratar de uma discussão nova, já que volta e meia ela volta com nova roupagem (foi assim com o surgimento da televisão, do VHS, do DVD e agora com os serviços On Demand, de tal forma que até o Oscar já abriu precedentes para filmes assistidos em streaming). O fato é que ver um filme no cinema e seu telão é incomparável, mas, infelizmente, nem sempre você tem acesso ao filme que quer assistir na sala de cinema perto de você. Neste ponto, o Netflix se fortalece e será difícil vendê-lo como vilão da história. 

Já Não me Sinto em Casa Nesse Mundo (I don't Feel at Home in This World Anymore/EUA-2017) de Macon Blair com Melanie Linskey, Elijah Wood, Jane Levy, Christine Woods e Robert Longstreet. ☻☻☻☻

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