sábado, 1 de dezembro de 2018

Na Tela: As Viúvas

Debicki, Viola, Michelle e Erivo: filme de assalto diferente. 

É interessante notar que não existe cartilha de determinado gênero cinematográfico, clichê batido ou trama já utilizada que não possa se transformar em uma obra surpreendente nas mãos de uma equipe disposta a dar o melhor de si. Exemplo disto é As Viúvas, que seria o tipo de filme que não despertaria meu interesse se não tivesse dois nomes à frente: o diretor Steve McQueen e a atriz Viola Davis. Os dois oscarizados (ele pela produção de 12 Anos de Escravidão/2013 ela como atriz coadjuvante por Um Limite Entre Nós/2017) são o ponto de partida para demonstrar que o que seria mais um filme de assalto pode se tornar muito mais. O longa conta a história de mulheres que se unem para terminar um serviço que os maridos não tiveram tempo de realizar, afinal, foram mortos no meio de um assalto - e para o azar da esposa do líder do grupo, Veronica (Davis), ela que está na mira dos lesados que exigem que ela devolva os milhões roubados. Embora nunca tenha se interessado pelos negócios ilegais do esposo (Liam Neeson), ela se percebe acuada, tendo a ideia de se livrar da dívida realizando o último roubo arquitetado pelo marido. Para isso, ela entra em contato com as outras três viúvas, Linda (Michelle Rodriguez), Amanda (Carrie Coon) e Alice (Elizabeth Debicki) para que a ajudem a colocar o tal plano em prática. É neste momento que o as camadas do filme se expande e ele foge da cartilha do gênero a que pertence. O roteiro de McQueen e Gillian Flynn (de Garota Exemplar/2014), inspirado na série homônima de Lynda La Plante, começa a explorar o que existe nas entrelinhas desta história para além do luto. Descobrimos que Veronica tem uma ferida que ainda não cicatrizou - e que culpa o estilo de vida do marido por isso, que Linda é mais destemida do que uma dona de loja de vestidos de quinceañera é capaz de sugerir, que Amanda tem lá os seus segredos e Alice tirou um verdadeiro peso de sua vida doméstica. Para além destas personagens existe ainda uma camada política que dá corpo para tudo o que acontece ao redor delas, tornando curioso como esta esfera política é apresentada  com homens não muito confiáveis, seja quando se trata dos Mulligans (Robert Duvall e Colin Farrell) ou dos Mannings (Brian Tyree Henry e Daniel Kaluuya) - e existe uma verdadeira guerra sendo travada aqui e as viúvas pairam em torno dela quase que por acidente. Embora marque sua estreia em  um filme menos autoral, McQueen faz a diferença desde as primeiras cenas, quando mescla a apresentação das esposas com a cena de ação de seus maridos. São cortes rápidos e precisos, que com o uso da cena exata garante a empatia do público com aquelas personagens - e o que sentimos por elas é lapidado até o desfecho. Nesta estrutura, todas as atrizes estão bem. Viola Davis consegue ser  imponente ao mesmo tempo que compõe uma personagem destruída por dentro - uma tarefa complicada que só comprova o quanto ela é uma das melhores atrizes em atividade hoje. Sua elegância ímpar não deixa dúvidas de que faz tempo que ela é uma diva. Viola está muito bem acompanhada por Michelle Rodriguez, que faz tempo não demonstrava ser tão boa atriz (e quase que ela não aceitou o papel por não se achar com o perfil certo para ele).  Elizabeth Debicki dá conta de um papel bem elaborado e consegue fugir de qualquer armadilha de estereótipo que cruze o seu caminho. Carrie Coon tem um papel pequeno, mas o suficiente para deixar sua marca e Cynthia Erivo (que entra para o time quase que de última hora) é uma atriz para se ficar de olho. Conduzido com maestria, o filme cresce costurando drama e suspense com doses  precisas de violência crua - com este clima, o filme me remeteu ao filme de estreia de  McQueen, Fome (2008), não sei se outros irão fazer esta relação, mas ela me pareceu bastante presente.

As Viúvas (Widows / EUA-2018) de Steve McQueen com Viola Davis, Liam Neeson, Elizabeth Debicki, Michelle Williams, Collin Farrell, Daniel Kalluya, Robert Duvall, Cynthia Erivo, Jon Bernthal, Jacki Weaver, Lukas Haas e Garret Dillahunt. ☻☻☻

Nenhum comentário:

Postar um comentário