quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

NaTela: Green Book

Viggo e Ali: talentos que engrandecem o filme. 

Green Book chega aos cinemas brasileiros com cinco indicações ao Oscar e dois Globos de Ouro na bagagem (filme de comédia e ator coadjuvante). Assim que foi lançado o filme foi tido como um dos favoritos a conquistar a estatueta mais cobiçada da noite, mas ao longo de sua trajetória se tornou um tanto escaldado pelas críticas recebidas e alguns equívocos envolvendo o ator Viggo Mortensen e o diretor Peter Farrelly. Peter ficou famoso nos anos 1990 por dirigir comédias idiotas ao lado do irmão, Bobby, estão nesta lista os sucessos Debi & Loide (1994) e Quem Vai Ficar Com Mary (1998). O humor da dupla sempre flertou com a grosseria, mas passava uma camada de sentimentalismo para dar uma equilibrada. Faz algum tempo que a dupla não consegue um sucesso, possivelmente porque o politicamente correto não suporta mais filmes que façam humor a partir de pessoas com deficiência, idosos, mulheres obesas ou irmãos siameses. Peter foi esperto e procurou seguir outro caminho com este Green Book, escrevendo o roteiro (indicado ao Oscar) ao lado de Nick Vallelonga e Bryan Currie e ajustou o tom para algo mais palatável. Existe uma exercício de maturidade considerável nesta transição, mas quase tudo foi por água abaixo quando recentemente a família do músico Don Shirley criticou o filme não terem sido consultados - e acusaram a trama um amontoado de mentiras. As pessoas ainda acreditam que um filme inspirado em fatos reais é um retrato fidedigno da realidade? Lamento informar, mas nem os documentários são mais tão realistas. Se você não faz parte dos "enganados", você ainda pode gostar bastante do que vê na telona. A ideia geral é apresentar uma espécie de road movie que coloca um músico negro genial em sua turnê pelo sul dos EUA. Vale ressaltar que a segregação fervia neste período dos anos 1960. Porém, o foco está no relacionamento do músico com o motorista ítalo-americano, Tony. É meio que por acaso que Tony Vallelonga (Viggo Mortensen indicado ao Oscar de melhor ator) aceita o trabalho de ser motorista e espécie de assessor do pianista Donald Shirley (Mahershala Ali indicado ao Oscar de Coadjuvante). Sua tarefa é não apenas dirigir, mas ajudar o artista a se livrar dos apuros que o sul do país lhe reserva. O roteiro é uma sucessão de episódios que ressaltam as diferenças entre os dois, sendo Tony um grosseirão e Don um sofisticado artista - e os diálogos entre eles são bem divertidos. O filme brinca com os arquétipos dos personagens e se beneficia bastante do talento e da química dos atores. Embora não traga grande novidades para a temática do racismo, o filme consegue tratar com humor e leveza temas sérios, o que pode desapontar os que esperam mais profundidade, mas serve para fazer o grande público se desarmar perante a temática que apresenta. Se o foco está mais sobre Tony é porque o filme está impregnado das impressões do roteirista sobre o pai (sim, Nick é filho do homem) e as histórias que possivelmente ele ouvia - e o próprio Tony fala um bocado sobre sua característica de convencer as pessoas sobre o que ele quer que acreditem. Se Tony atravessa uma transformação mais perceptível na história (do racista que passa a enxergar o diferente para um ser concreto, para além do rótulo baseado na cor de pele), Donald também tem desenvolvimento interessante no conflito de um homem tratado como um gênio sobre um palco, mas excluído quando chega ao mundo real. O homem e o artista (com seus temores e desejos) se digladiam o tempo todo na interpretação precisa de Mahershala (que já tem um Oscar de coadjuvante pelo traficante de Moonlight/2016 e pode levar outro). Sem ser incisivo nos temas espinhosos que aborda, Green Book (título baseado num livrinho guia utilizado por negros em suas viagens pelo sul dos EUA) atenua sua densidade, mas ainda faz pensar em como toda forma de preconceito é estúpida. O filme ainda concorre ao Oscar de Melhor Montagem. 

Green Book (Green Book/ EUA-2018) de Peter Farrelly com Viggo Mortensen, Mahershala Ali, Linda Cardellini,  Mike Hatton, Joe Cortese e Von Lewis. ☻☻☻

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