sábado, 13 de abril de 2019

Na tela: Vox Lux

Natalie Portman: diva pop do século XXI.  

Brady Corbet estreou como ator em 2000 aos doze anos de idade em séries de TV e três anos depois apareceu em seus primeiro filme nas telonas, o polêmico Aos Treze (2003). Desde então manteve trabalhos frequentes em filmes interessantes, apareceu em Martha Marcy May Marlene (2011), trabalhou com Lars Von Trier em Melancolia (2011), com Michael Haneke fez a refilmagem de  Violência Gratuita (2007) e com Olivier Assayas apareceu em Acima das Nuvens (2014), são destes filmes sérios de pendores reflexivos que seu cinema como diretor se espelha. Quando estreou na direção com A Infância de um Líder (2015), Corbet deixou claro que tinha grandes pretensões para sua carreira de cineasta, pretensões que o disfarce pop de Vox Lux consegue intensificar ainda mais, ressaltando principalmente o que aprendeu com os cineastas que atravessaram sua carreira. De Trier ele moldou  a história separada em capítulos e o apetite por narradores (aqui a voz de Willem Dafoe confere ao filme uma solenidade quase irônica), de Haneke ele transborda a frieza em apresentar cenas escabrosas com a naturalidade de quem come jujubas. De ambos ele tem a ousadia, aqui empregada para contar uma alegoria sobre o século XXI calcada na ascensão de uma estrela pop nascida da tragédia. Desde o início o filme deixa claro que a pequena Celeste tinha interesse pela música, ela só não imaginava que vivenciaria uma tragédia na aula de música quando um colega dispara contra a professora e a turma numa dessas tragédias que evocam os horrores de Columbine. Atingida no pescoço, Celeste terá que conviver com as dores constantes de uma bala alojada em sua espinha. Diante das dores da tragédia, ela escreve uma música em memória aos amigos perdidos que expressa a dor de todos que assistiram perplexos aqueles acontecimentos. De olho no apelo daquela menina inocente (vivida com competência pela novata Raffey Cassidy) de apelo nacional, uma gravadora irá contratá-la para se tornar uma cantora de sucesso. Do sangue de inocentes, nasce uma estrela que sempre disfarça sua cicatriz com adornos diferenciados. Um ícone pop seguido por milhares de fãs, que seguem suas batidas e clipes estilosos com verdadeira devoção enquanto outros dois atentados atravessam sua história. Ambientado no alvorecer do século XXI, Corbet cria uma alegoria bastante instigante sobre o mundo neste século com suas  batidas, luzes e cores que se intensificam para uma plateia em transe, sedenta por imagens e sons na velocidade do celular. No entanto, grande parte do apelo do filme no exterior se deu por conta da presença de Natalie Portman, que aparece na narrativa somente em sua segunda parte, vivendo uma  transmutada Celeste de 31 anos, com uma filha de dezesseis (vivida pela mesma Raffey Cassidy) com quem mal consegue conversar e uma coleção de histórias que só demonstram como está perdida. Natalie capricha nos maneirismo, nos gestos amplos, no sotaque e cria uma personalidade pública que parece por si só ensaiada, uma personagem interpretando outra personagem. Como já fez em outros trabalhos, Natalie sobrepõe camadas e emoções com habilidade e expande seu talento nas últimas cenas convencendo que é uma estrela da música pop de conotações faustianas. No fim das contas, Corbet constata que o século XXI é povoado por uma plateia que esquece a história e contempla ídolos de personalidades dissipadas entre luzes e sons, numa catarse de massa regada que capitaliza até as maiores tragédias em busca de fama e sucesso. Ainda que todas as intenções de Vox Lux pareçam absurdas em sua caótica estrutura narrativa, a trama me fez lembrar de muita gente. 

Vox Lux (EUA-2018) de Brady Corbet com Natalie Portman, Raffey Cassidy, Stacy Martin, Jude Law, Jennifer Ehle, Christopher Abbott e Willem Dafoe. 

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