domingo, 29 de março de 2020

PL►Y: Jonas

Maritaud: mais um papel complicado no currículo. 

Filmes como Jonas são sempre interessantes por contar uma história dramática como se fosse um drama. Para tanto, o diretor Christophe Charrier precisa guardar o segredo de seu protagonista até o fim sem deixar o espectador entediado. Ele consegue, mas para isso começa o filme pelo meio do caminho e, segue indo e vindo entre dois tempos distintos até chegar no desfecho. Até lá estaremos curiosos para saber o que aconteceu para que a vida de um tímido adolescente saia dos eixos. Quando conhecemos Jonas ele tem quinze anos (Nicolas Bauwens) e está visivelmente assustado, não vai demorar muito para que o vejamos dezoito anos mais velho (agora vivido por Félix Maritaud) com ar visivelmente perdido. Homossexual assumido, Jonas se mete em confusões em uma boate gay, briga com o namorado e até o trabalho em um hospital revela mais sobre ele do que você imagina (e nem vou contar para não estragar). Boa parte da história se passa nas entrelinhas, seja quando Jonas é jovem e se aproxima cada vez mais de um novo colega da escola (Tommy-Lee Baïk) ou quando na fase adulta persegue o paradeiro de um rapaz que não sabemos ao certo quem é. O trabalho de direção e montagem tem como maior desafio costurar estes dois tempos de forma envolvente para manter nosso interesse na narrativa que é lenta, mas que se desenvolve numa envolvente espiral de acontecimentos. Se por um lado vemos o despertar da sexualidade do jovem personagem, aos poucos imaginamos que houve algo de traumático naquele relacionamento, ao mesmo tempo temos receio de quais são as intenções do personagem adulto em sua instabilidade emocional. O estreante Chritophe Charrier faz um belo filme e fica difícil acreditar que foi concebido para a televisão francesa. Exibido por aqui na Netflix, Jonas é um exercício narrativo bastante interessante e ao revelar seu segredo o resultado se torna angustiante. É preciso destacar o trabalho de Félix Maritaud, que repleto de ambiguidades faz com que o espectador projete nele uma gama de suspeitas que só enriquece o filme. Curiosamente, Maritaud é quase um novato no cinema. Ele fez uma pequena participação em 120 Batimentos por Minuto (2017), depois estrelou o pesadão Selvagem (que lhe rendeu o prêmio de ator revelação em Cannes em 2018), atuou em Faca no Coração (2018) com Vanessa Paradis, além de estar no novo filme do controverso Gaspar Noé: Luz Eterna/2019. Sabendo equilibrar despudor e melancolia em papeis complicados, o rapaz merece atenção. 

Jonas (Jonas / França - 2018) de Christophe Charrier com Felix Maritaud, Nicolas Bauwens, Tommy Lee-Baïk, Aure Atika, Marie Denarnaud e Ilian Bergala. ☻☻

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