segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Na Tela: 120 Batimentos por Minuto

Biscayart: lutando contra o HIV. 

Ganhador de quatro prêmios no Festival de Cannes no ano passado, incluindo o Grande Prêmio do Júri, 120 Batimentos por Minuto foi escolhido pela França para tentar uma vaga no páreo de melhor filme estrangeiro no Oscar da Academia - e acabou ficando de fora em uma das peneiras prévias, já que está bem longe de seguir os padrões dos votantes da categoria com suas doses de erotismo e uma queda pela polêmica (uma vez que o grupo retratado no filme era expert em gerar controvérsia com suas manifestações provocadoras). O filme retrata o trabalho do grupo ACT UP formado por membros soropositivos e simpatizantes da causa que girava em torno de melhorar o atendimento do Estado francês aos contaminados pelo vírus da AIDS. Vale ressaltar que o filme é ambientado nos anos 1990, onde as pesquisas sobre o vírus ainda engatinhavam e ainda havia muito preconceito em torno da doença. O resultado era que as campanhas governamentais mostravam-se pouco efetivas, assim como o acompanhamento dos casos recebia menos atenção do que devia. Assim, naquela década - que nem é tão distante assim - a doença proliferava de forma assustadora, ao ponto de se configurar como uma verdadeira epidemia. Assim, as ações do ACT UP se articulavam contra a indiferença com que a maioria da sociedade lidava com o HIV. Afinal, a ideia de peste gay poderia ter sido ultrapassada, mas a ideia de grupo de risco permanecia bastante forte no imaginário social. Desde o início o filme já insere o espectador dentro daquela realidade, demonstrando como dentro de um mesmo grupo ativista existem suas próprias divergências e contradições. A ideia se repete várias vezes durante o filme, assim como os planejamento das ações do grupo, várias delas tendo como principal alvo a indústria farmacêutica que não ouvia a opinião dos soropositivos no desenvolvimento dos medicamentos e, segundo o ACT UP os tratava mais como cobaias do que como pacientes. Não vou entrar no mérito se o grupo exagera em suas ações ou não, mas, embora o filme demonstre as tensões que existem dentro do grupo, falta um pouco de autocritica nos personagens em alguns momentos da história. O diretor Robin Campillo (um dos autores de Entre os Muros da Escola/2008 e diretor do filme Les Revenants/ que deu origem à série) cria no decorrer da narrativa uma manobra interessante ao partir de um universo amplo para um bastante particular, assim, aos poucos o filme recai sobre Sean (Nahuel Pérez Biscayart) e seu relacionamento com Nathan (Arnaud Valois). Nathan também tem o importante papel na trama de servir de olhos para o espectador, já que é um dos poucos soronegativos presentes no grupo. Campillo cria a narrativa em tom quase documental, com poucos closes e ângulos feitos para dar a impressão de que a câmera invade a vida daqueles personagens (incluindo momentos de intimidade) em uma atmosfera bastante realista. Embora pudesse ser mais enxuto, 120 Batimentos por Minuto é um filme denso que consegue ser desagradável quando  necessário. Vale ressaltar que seu tom de urgência parece feito na medida para uma população jovem que não vê a AIDS mais como uma ameaça e não faz ideia das lutas e tensões que já existiram em torno dela.

120 Batimentos por Minuto (120 battements par Minute/França-2017) de Robin Campillo com Nahuel Pérez Biscayart, Arnaud Valois, Adèle Haenel, Antoine Reinartz, Félix Maritaud e Alouïse Savage. ☻☻☻

Nenhum comentário:

Postar um comentário