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| David e seus amigos: o fantasma da AIDS nos anos 1980. |
Meu Querido Companheiro de Norman René entrou para a história do cinema como o primeiro filme de Hollywood a tratar a propagação da AIDS. Lançado em 1989, o filme trazia para as telonas um tema bastante atual, além de difícil e bastante espinhoso de ser trabalhado. Assistido nos dias atuais, percebe-se que apesar do ritmo arrastado e do tom novelesco, o filme até que envelheceu bem na forma como lida com o tema. O maior trunfo do filme é driblar os estigmas que ainda eram bastante presentes na época, chegando até mesmo a citá-los mas de forma que ainda hoje conseguimos ver como uma crítica ao olhar limitado que o período possuía com relação à doença e sua proliferação entre homossexuais. A narrativa inicia em 1981, quando começam as primeiras notícias em torno da estranha doença que afeta o sistema imunológico de suas vítimas. No centro da trama está um grupo de amigos gays que precisará lidar com aquela ameaça desconhecida, com as perdas que se seguirão no grupo e os preconceitos gerados por ela. O roteiro de Craig Lucas estrutura a história com passagens de tempo que atravessam a década de 1980, revelando os rumos que as vidas dos amigos com o HIV pairando sobre eles. O mais interessante é que o roteiro consegue construir identidades para seus personagens para além do fato de serem homossexuais (algo que até hoje é uma dificuldade em produções de estúdio), eles possuem suas vidas estruturadas, profissões, relacionamentos que perduram, terminam e recomeçam. Além disso, consegue retratar o temor de perceber que um amigo está emagrecendo demais ou a ameaça de uma mancha que aparece na pele, além de marcas bastante comuns sobre o período em que sabiam pouca coisa sobre a doença, o que tornava o uso de objetos um cumprimentos algo visto como "perigoso" entre membros da comunidade, afinal, ainda era um mistério a forma omo a doença era transmitida. Obviamente que por ser feito nos anos 1980, a maioria do elenco é formada por atores héteros, rendendo até uma indicação ao Oscar de ator coadjuvante para Bruce Davison na pele de David, que terá que lidar com a doença de seu parceiro. O longa também recebeu o prêmio do Júri no Festival de Sundance e ainda é visto como uma das obras mais importantes de seu período de lançamento. A temática do filme já foi explorada outras vezes, seja na estupenda minissérie Angels in America (2003) ou em filmes como E a Vida Continua (1993) e The Normal Heart (2014). Uma curiosidade é que o filme independente Buddies (1985) recebeu menos projeção em sua época de lançamento, mas oferece uma visão bem mais sombria sobre o período do que a oferecida em Meu Querido Companheiro, que peca um pouco pela forma um tanto formal com que lida com o drama dos personagens.
Meu Querido Companheiro (Longtime Companion / EUA - 1989) de Norman René com Bruce Davison, Campbell Scott, Dermot Mulroney, Mary Louise Parker, Patrick Cassidy, John Dossett e Michael Schoeffling. ☻☻☻

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