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| McAvoy: aquele dia de imitar a cena de Jack Nicholson em O Iluminado. |
Sou daquelas pessoas que nunca entendem muito bem os motivos de Hollywood fazer um remake de um filme estrangeiro recente. Eu sei, argumentam que é mais seguro investir em uma trama que já provou funcionar na telona, também já ouvi aquele argumento de que os sobrinhos do Tio Sam odeiam legendas e, por conta disso, consideram um acerto maior ainda fazer a versão em inglês de um filme gringo. No entanto a refilmagem do dinamarquês Speak no Evil (2022) evidencia uma motivação até então pouco discutida em um remake made in USA: alterar o final. O longa europeu de Christian Tafdrup se consagrou em festivais e premiações por ser um dos suspenses mais perturbadores dos últimos anos, especialmente por conta do seu final aterrador e impregnado de simbologias. O final é tão angustiante que muita gente teve pesadelos com aquele desfecho por meses. Tafdrup dirigiu apenas três filmes em sua carreira (estreou com Pais/2016 e depois lançou Uma Mulher Terrível/2017 antes de ganhar reconhecimento mundial com a história do casal que vai visitar um outro casal recém conhecido e acaba se envolvendo em uma trama sinistra ao lado da filha. Ao longo de sua carreira, Tafdrup já deixou claro seu gosto pela provocação e o pulso firme na hora de construir desconforto na plateia. Já a versão americana caminha para o lado oposto. Saem todas as camadas presentes nas entrelinhas e escancara-se o que o filme preferia manter em segredo até que o espectador se percebesse tão sem saída quanto a família de visitantes. O diretor e roteirista James Watkins tem bem menos destreza do que Tafdrup na condução da trama, o que faz com que o longa perca não apenas a sutileza, mas também a atmosfera de tensão que era construída milimetricamente ao longo da narrativa, porém, o maior problema está no horrendo desfecho cheio de perseguições, sanguinolência e histeria. O remake reserva ainda algumas surpresas para os espectadores do original, algumas delas desnecessárias e até mesmo confusas para não soarem politicamente incorretas. Muito do interesse se deve aqui ao elenco, capitaneado pelo sempre eficiente James McAvoy, que vive o truculento Paddy, casado com Ciara (Aisling Franciosi) e pai de Ant (Dan Rough). O trio está em uma viagem pela Itália quando conhecem Ben (Scoot McNairy) e Louise (Mackenzie Davis), pais de Agnes (Alix West Lefler). As famílias se aproximam e gera um convite para uma visita posterior à casa de campo de Paddy. Porém, durante a tal visita, a convivência revela que a família anfitriã é bem menos agradável do que imaginavam e, mais do que isso, que guardam segredos arrepiantes. O remake mantêm várias cenas clássicas do filme original, mas que geram um impacto menor do que o esperado pelo tom exagerado impresso pela direção. O Speak no Evil original funcionava justamente por ser enxuto e manter aquele tom de mistério até mesmo após o desfecho. Do jeito que está, parece que a nova versão foi feita para reparar os danos psicológicos deixados pelo filme de 2022. Há quem goste, mas eu ainda prefiro todo o desconforto elaborado por Tafdrup que pode ser conferido em sua versão original no streaming da Reserva Imovision.
Não Fale o Mal (Speak no Evil/ EUA - 2024) de James Watkins com James McAvoy, Mackenzie Davis, Scoot McNairy, Aisling Franciosi, Alix West Lefler, Dan Hough e Kris Hitchen. ☻☻

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