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| Santoro e Martines: pedaços de uma família. |
Lançado originalmente em 2011, o livro O Filho de Mil Homens do português Valter Hugo Mãe colecionou elogios, fãs e a fama de ser aquele tipo de livro inadaptável para o cinema. A narrativa, cheia de simbologias e momentos classificados como "realismo fantástico" tornavam a tarefa complicada para qualquer um que se aventurasse a levar para a tela a vida dos personagens solitários em busca de conexões afetivas. Sorte que o brasileiro Daniel Rezende é talentoso o suficiente para dar conta da adaptação neste filme que produzido pela Netflix e que teve uma passagem rápida por algumas salas de cinema. Vale lembrar que Daniel foi indicado ao Oscar em sua estreia no cinema, como montador de Cidade de Deus (2002). Depois trabalhou em outros filmes de prestígio como Tropa de Elite (2007) e A Árvore da Vida (2011). Depois migrou para a direção com algumas séries e longas como Bingo - O Rei das Manhãs (2017) e dois filmes live action da Turma da Mônica (em 2019 e 2021). Diante de um currículo destes, pode-se dizer que Daniel Rezende tem um talento ímpar para construir narrativas das mais variadas, seja na ilha de edição ou atrás das câmeras. Seu trabalho em O Filho de Mil Homens deve ter sido o mais desafiador de sua carreira, mas resulta no mais belo enquanto cineasta. A forma como ele entrelaça os tempos e personagens é feita sem pressa, de forma contemplativa, mas sem perder de vista a conexão com o espectador que acompanha apreensivo tudo o que acontece na tela. Achei um deleite acompanhar Crisóstomo (Rodrigo Santoro), um pescador que vive solitário em sua casa perto do mar. Sua vontade de ser pai é tão grande (ou seria sua solidão?) que possui até um boneco de pano que trata como se fosse uma criança. Eis que um dia uma mulher lhe pede para tomar conta de Camilo (Miguel Martines), um menino que até então era criado pelo avô (Fernão Zobaran). A relação entre os dois começa aos tropeços, principalmente pelo fato de ambos vivenciarem realidades completamente diferentes até então (e que, por ser de verdade, o menino não está sempre sorrindo feito o boneco). Aos poucos os dois se aproximam, mas Camilo pergunta se seria possível ter uma mãe, já que nunca conheceu uma. Diante da indagação, seremos apresentados a personagens que irão se encaixar nessa história, entram em cena Francisca (a excelente Juliana Caldas), Antonino (Johnny Massaro) e Isaura (Rebeca Jamir). Cada um deles terá seu momento na trama e renderão momentos emocionantes que parecem levar a trama para outros caminhos, mas que convergem para a construção de uma família no sentido mais acolhedor do termo. Aos poucos as peças se encaixam, os personagens se conectam e o filme se torna um trabalho bastante maduro repleto de boas atuações (destaque ainda para Grace Passô em mais um trabalho memorável). Com belas locações, fotografia bem cuidada e montagem impecável, O Filho de Mil Homens garantiu sua vaga entre meus filmes favoritos do ano. Vale lembrar que a produção ficou entre os finalistas para indicação à uma vaga ao Oscar de melhor filme internacional e, caso fosse o escolhido, eu não ficaria aborrecido.
O Filho de Mil Homens (Brasil/2025) de Daniel Rezende com Rodrigo Santoro, Miguel Martines, Juliana Caldas, Johnny Massaro, Rebeca Jamir, Grace Passô, Antonio Haddad, Lívia Silva, Inez Viana, Tuna Dwek, Caros Francisco e Fernão Zobaran. ☻☻☻☻

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