Leandra e Milhem: encontro dos lobos.
O Lobo Atrás da Porta foi um dos filmes mais elogiados do ano, quase sendo o escolhido para defender o Brasil em uma vaga ao Oscar de filme estrangeiro (perdendo a pré-indicação para Hoje Eu Quero Voltar Sozinho). Marcando a estreia do diretor Fernando Coimbra em longa metragem, torna-se notável o seu esmero em fugir de lugares comuns, evitando gracinhas e não tendo medo de ser desagradável nos momentos certos. Nota-se essa desenvoltura na escolha de locações que parecem construir outro Rio de Janeiro em nosso imaginário cinematográfico. Centrado em municípios da periferia, não há nada de cartão postal nas locações, sendo que quando aparece algo que se assemelhe a isso, é no momento em que a plateia já está com o coração na mão - e percebe de que já conhecemos aquela história, mas pelo viés do sensacionalismo - que não é o que vemos aqui. Coimbra opta por construir um quebra-cabeça humano, repleto de ilusões, decepções e atrocidades a partir do desaparecimento de uma garotinha na saída da escola. A partir do sumiço, começam as investigações que apontam para um sequestro. É a partir, principalmente dos depoimentos da mãe (Fabiúla Nascimento) e do pai (Milhem Cortaz) que tomamos conhecimentos dos suspeitos e o caminho que o filme pode seguir. Até então, nem o espectador sabe direito em qual gênero encaixar o filme. Suspense? Drama? Terror? O Lobo continua escondido até que através dos flashbacks milimetricamente encadeados, o espectador começa a ajustar o foco e perceber do que trata a história. É quando conhecemos a principal suspeita que o filme revela outras virtudes. É a atuação perfeita de Leandra Leal que serve para revelar os segredos que as entrelinhas do sequestro não conseguem esconder. Teria a mãe chorosa um amante vingativo? Ou é a esposa do tal amante que quer se vingar? E o pai, seria um sujeito confiável? Além do suspense que cresce entre silêncios e diálogos (às vezes torturantes), o que sustenta é o drama vivido pelos personagens, especialmente a de Leandra. Uma jovem que apaixona-se pela pessoa errada e sofre consequências que nem imaginaria. Leandra Leal tem aqui outro grande momento, mostrando que sabe crescer diante das câmeras, numa personagem complexa que ganha nossa simpatia enquanto o diretor tece uma trama cheia de crueldades. Ao fim da sessão, vemos que não existe apenas um lobo na história, mas que apenas um deles é capaz de admitir o crime que cometeu e, ainda assim, contentar-se com uma satisfação que não pode ser compreendida por ninguém mais além de si. Coimbra realiza um filme perturbador, especialmente por humanizar alguém que poderíamos ver apenas como um monstro amoral.
O Lobo Atrás da Porta (Brasil/2014) de Fernando Coimbra com Leandra Leal, Milhem Cortaz, Fabiúla Nascimento, Juliano Cazarré e Tamara Taxman. ☻☻☻☻
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