quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Na Tela: Era Uma Vez em Nova York

Marion e Phoenix: romantismo frustrado. 

É estranho ver Era Uma Vez em Nova York ser lançado tão distante do tempo em que os estúdios divulgam suas melhores produções para o Oscar. Exibido no Festival de Cannes, o longa é o filme mais ambicioso (e o mais diferente) da carreira de James Gray. Analisando sua filmografia iremos nos deparar com produções urbanas com um gosto queda por personagens que não são exatamente modelos de conduta. Aqui ele repete sua parceria com Joaquin Phoenix, mas investe num filme de época, mais precisamente do ano de 1921. Em busca do sonho americano, Ewa Cybulska (Marion Cotillard) chega aos Estados Unidos em busca de melhor oportunidade de vida com a irmã, Magda (Angela Sarafyan). Logo que chegam as duas tem problemas com a imigração. Enquanto consideram que Magda está doente, Ewa é acusada de ter praticado atos despudorados com os homens da tripulação do navio em que embarcou. Com medo de ser deportada para a terra natal, pede ajuda para o desconhecido Bruno Weiss (Joaquin Phoenix). Afastada da irmã, Ewa fica  sob a proteção dele, sob a condição de agradar os fregueses de sua casa de mulheres. Quando entra em cena o primo de Bruno, o mágico Emil (Jeremy Renner), forma-se um triângulo amoroso perigoso. James Gray conta uma história de amor diferente, onde Ewa nunca desfruta de cenas de amor com seus dois admiradores - e os dois vivem brigando por conta dela. Existe um impasse na personagem, que enfrenta sentimentos opostos por Bruno (gratidão/raiva) e Emil (esperança/desconfiança), assim como pela terra em que acreditava lhe trazer oportunidades - mas que a direciona para algo bem menos digno do que imaginava.  Gray conduz uma história difícil como se fosse fácil, afinal, a dinâmica da narrativa é pautada exclusivamente nas relações de seus personagens. Se Renner cria um personagem pouco interessante (embora bem nutrido de referenciais românticos) e Phoenix dá vida a um tipo estranho fascinante, o centro das atenções ainda é Marion Cotillard. A francesa cria uma personagem difícil, de emoções densas e interiorizadas, oferecendo cenas em que seu olhar triste vale mais do que a cena de catarse que nunca chega para Ewa. Gray faz um filme que bebe no realismo revelando um romantismo frustrado que nunca se cumpre, assim como as expectativas de Ewa, rejeitada pelos seus parentes em solo americano, perseguida por policiais, deitando com diferentes homens que não lhe oferecem nada além de alguns trocados. Tudo soa como golpes em um sonho que morre aos poucos. Bem produzido em seus tons de marrom e dourado, Era Uma Vez em Nova York revela-se um conto de fadas com cara de tragédia e, por isso  mesmo, mostra que James Gray merece reconhecimento como um dos melhores jovens diretores americanos. Lançado em maio nos EUA, não se surpreenda se o filme reaparecer na temporada de ouro que se aproxima.

Era Uma Vez em Nova York (The Immigrant/EUA-2014) de James Gray com Marion Cotillard, Joaquin Phoenix, Jeremy Renner e Jicky Schnee. ☻☻☻☻

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