domingo, 16 de novembro de 2014

FILMED+: Entrevista com o Vampiro

Claudia, Pitt e Cruise: família disfuncional?

Faz tempo em que assisti Entrevista com o Vampiro, versão cinematográfica do clássico livro de Anne Rice lançado em 1976 (e que no Braisl foi traduzido por Clarice Lispector). Recentemente o filme me veio à memória por conta de Amantes Eternos (2013) de Jim Jamursch. O filme estrelado por Tom Cruise (que estava no auge) e Brad Pitt (que começava a consolidar seu fã clube) permanece intacto em suas qualidades - além de ter uma fluência igualmente envolvente à sua época de lançamento. Evidente que os maiores elogios são para o diretor Neil Jordan, que criou um visual barroco para contar a história de vampiros mais multifacetada da história do cinema, além de manter a rédea curta para que tudo não caísse no ridículo (e acredite o risco era grande: vampiros afetados com um único personagem feminino marcante - feito por uma criança que age feito adulta). Beneficiado pelas influências do horror clássico, Entrevista com o Vampiro é uma ode à maldição de ser eterno na busca por sangue. Não lembro de ter visto um filme que conseguisse retratar tão bem essa sensação, até então não explorada sobre essa figura emblemática do horror. A trama começa como o título anuncia, quando um jornalista (Christian Slater) se prepara para entrevistar um homem de pele muito branca e reservado, mas que não demora muito para revelar-se um vampiro. Seu nome é Louis (Brad Pitt ainda apático), transformado em vampiro no século XVIII pelo misterioso Lestat (Tom Cruise). Porém, enquanto Lestat considera ter conferido ao rapaz a maior dádiva de todas (a eternidade), Louis considera que sua vida se transformou num inferno. Condenado à escuridão, ele atravessa o século ao lado de Lestat e seus métodos de sedução para conquistar as presas. Enquanto Lestat abraça sua maldição com gosto, Louis apenas lamenta o que seus olhos veem. A vida entre os dois tem uma guinada brusca quando a menina órfã, Claudia (Kirsten Dunst, com 12 anos na época do lançamento do filme) cruza-lhes o caminho e ela se torna uma criança vampira. Condenada a amadurecer num corpo infantil, Claudia rebela-se contra Lestat e o resultado só aumenta o tom de tragédia do filme. Ao lado de Louis ela precisa  sufocar seus desejos de mulher e enfrentar sua impossibilidade de crescer. Jordan cria uma dinâmica irresistível entre o trio, com surpreendente destaque para a atuação madura de Kirsten na pele de uma personagem difícil e que poderia gerar polêmicas desnecessárias ao filme. Mas além do trio, existem outros vampiros, sendo a sequência mais desagradável o dos membros do sanguinário Teatro dos Vampiros. Liderados por Armand (Antonio Banderas, com uma peruca que tenta imitar a cabeleira de Glória Pires), a trupe poderá descobrir o maior segredo de Claudia e Louis e deixá-los em perigo. Neil Jordan cria um espetáculo visual que impressiona, sem perder a densidade desses seres imortais. Além de todo cuidado estético e dramático, o filme carrega forte no homoerotismo que chamou atenção da crítica e público por seu elenco repleto de de galãs hollywoodianos. Recentemente, a fome dos estúdios por novas sagas cinematográficas milionárias gerou uma nova compra de direitos da coleção criada por Anne Rice, a série Crônicas Vampirescas conta com dez livros - se contarmos com o ainda inédito Princípe Lestat a ser editado ainda esse ano - e todos devem chegar ao cinema nos próximos anos. Com especulações de que Pitt e Cruise podem atuar novamente juntos pela saga (será que dessa vez os dois se entenderão melhor no set?), a série parece querer manter distância do grotesco A Rainha dos Condenados (2002), outro livro da série que mostrava Lestat com pose de rockstar (vivido por Stuart Townsend) e que fracassou nas bilheterias. O mais interessante é que enquanto Entrevista mostra exatamente como tratar os personagens de Rice, o outro reflete exatamente o oposto. 

Entrevista com o Vampiro (Interview with a Vampire/EUA-1994) de Neil Jordan com Tom Cruise, Brad Pitt, Kirsten Dunst, Christian Slater, Atonio Banderas e Stephen Rea. ☻☻☻☻☻

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