quinta-feira, 14 de abril de 2016

Na Tela: Conspiração e Poder

Blanchett e Redford: bastidores rumo à lama. 

Para além do vencedor do Oscar Spotlight, outro filme sobre jornalismo ambicionava fazer bonito nas premiações, trata-se de Conspiração e Poder, que marcou a estreia do roteirista James Vanderbilt (de Zodíaco/2007) na direção. A lembrança nas premiações ficou apenas na intenção, mas a crítica foi bastante favorável ao filme que retrata de forma dramatizada um dos momentos mais controversos da recente história do jornalismo americano. Afinal, trata-se dos bastidores do renomado programa 60 Minutes que foi ao ar em 2004 onde o foco era: como o, então candidato à presidência George W. Bush teria utilizado a influência política de sua família para escapar do alistamento da Guerra do Vietnã. Capitaneado pelo prestigiado âncora Dan Rather (Robert Redford), um ícone do jornalismo americano, e produzido pela elogiada produtora Mary Mapes (Cate Blanchett), bastou o programa ir ao ar para colocar em dúvida a credibilidade da matéria e dos profissionais envolvidos. Toda a questão girava em torno dos documentos apresentados ao programa serem falsos - sendo acusados de servir apenas para favorecer ao outro candidato à presidência. A tarefa do filme é bastante complicada, já que por um lado está um grupo de jornalistas comprometidos com o seu trabalho que perseguem fontes, informações e provas, some isso a toda o estresse e ritmo frenético de construção de um programa jornalístico e não será difícil perceber que alguns atropelos possam ter acontecido pelo caminho. Por outro lado, estão os interesses políticos inegáveis de uma eleição americana. Ou seja, em Conspiração e Poder  a verdade (o título original do filme: Truth) está bastante turva e - ficará ainda pior. Além do que é verdade ou não, fica evidente o peso que a repercussão da notícia teve sobre a carreira de dois pilares do jornalismo, a partir da matéria, Rather e Mapes quase viraram inimigos de Estado, passando por sindicâncias, investigações, julgamentos... como o filme deixa claro, a carreira de ambos nunca mais foi a mesma. Enquanto diretor, Vanderbilt ainda precisa melhorar, explora poucos os personagens secundários defendidos por bons atores (Elisabeth Moss, Dennis Quaid, Topher Grace...) e deixa o filme numa cadência um tanto arrastada em sua primeira hora. Para nós brasileiros o filme tem ainda um caráter quase pedagógico, por apresentar uma história onde a verdade pode estar evidente ou cada vez mais oculta quando trata-se de interesses políticos - algo que deve desagradar quem enxerga o mundo apenas na oposição entre um lado e outro.

Conspiração e Poder (Truth/EUA-2015) de James Vanderbilt com Cate Blanchett, Robert Redford, Topher Grace, Bruce Greenwood e Dennis Quaid. ☻☻☻

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