Goldfarb: o pesadelo das drogas segundo Aronofsky.
Até assistir Réquiem para um Sonho eu não fazia ideia das sensações que um filme poderia provocar no expectador. Não estou me referindo às emoções que temos por torcer por um herói, ter raiva dos vilões ou sentir aquela tristeza junto a um punhado de personagens. Estou falando de enjoo mesmo, aquela sensação de nó na garganta que vai descendo até embrulhar o estômago e causar náusea. Réquiem é assim, um dos filmes mais angustiantes que um cineasta já ousou fazer, de uma melancolia tão profunda e de uma brutalidade tão dramática que beira o horror. Darren adapta o romance de Hubert Selby Jr (o mesmo de Noites Violentas no Broklyn de 1988) com tamanho estilo e ousadia que é impossível ficar indiferente. Quando o filme foi exibido em Cannes foi declarado o tipo de filme que ou se ama ou se odeia. Eu me enquadro no primeiro grupo. O filme acompanha o martírio de quatro personagens enquanto descem ao fundo do poço para fugir da realidade. Harry (Jared Leto) e seu amigo Tyrone (Marlon Wayans) fumam maconha, mas resolvem faturar uns trocados traficando drogas pesadas, assim pensam em bancar suas ambições - a de Harry é bancar a butique de sua namorada, a bela Maryon (Jennifer Connely, que aqui aprendeu a atuar de verdade). Enquanto os três começam a se afundar no vício em heroína, a mãe de Harry, Sarah Goldfarb (Ellen Burstyn, indicada ao Oscar de atriz e derrotada injustamente por Julia Roberts) sonha com o dia em que participará de um programa de televisão e caberá novamente no vestido vermelho que usou na formatura de seu filho. Sarah começa a usar remédios para emagrecer, logo estará viciada em anfetaminas com consequências desastrosas. Darren filma essa descida ao inferno com truques de edição, fotografia de cores sombrias ou exuberantes, contempla os delírios e a degradação de todos numa narrativa vertiginosa que tem seu auge nos últimos quinze minutos. O filme é narrado dividido pelas estações do ano, verão, outono e inverno... propositalmente faltou a primavera, momento em que o diretor abandona os personagens para que retomem seus caminhos por mais dilacerados que estejam. O diretor arranca a alma de seus atores no filme e o resultado é o melhor de suas carreiras nesta uma jornada auto-destrutiva de personagens que representam o obituário do sonho americano. Depois desse filme ninguém imaginava que Darren faria algo como Fonte da Vida. Até porque o filme colocou a arte sensorial cinematográfica em outro patamar - nisso a esplêndida trilha sonora de Kronos Quartett ajuda bastante.
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