terça-feira, 2 de março de 2021

CICLO DIRETORAS: Babenco - Alguém tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou

Babenco: filmes e luta contra o câncer. 

A escolha do documentário Babenco - Alguém tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou para concorrer a uma vaga no Oscar de filmes estrangeiro surpreendeu muita gente, mas era uma estratégia interessante. A começar por Hector Babenco ser um destes gigantes do cinema, responsável por clássicos que pertencem até hoje ao imaginário cinéfilo, muitos deles foram premiados - caso de O Beijo da Mulher Aranha/1985 que premiou William Hurt como melhor ator e concorreu em outras três categorias (filme, roteiro adaptado e direção), além de carimbar o passaporte de Sonia Braga para a carreira internacional. Nascido em 7 de fevereiro de 1946 em Mar Del Plata na capital Buenos Aires da Argentina, Babenco escolheu o Brasil para ser sua morada e cenário para a maioria de suas obras. Ao todo foram onze filmes que ajudaram a construir a relevância do diretor para o cinema, número modesto para 43 anos de carreira, mas se levarmos em consideração que desde 1985, Babenco lidava com a ameaça do câncer longe dos holofotes, entendemos o motivo de ter filmado tão pouco. O documentário dirigido por sua então companheira Bárbara Paz, mergulha neste mundo em que tratamentos médicos e projetos se misturaram na vida do cineasta, mas o faz não de modo convencional. Nada de uma profusão de cenas contando a vida do artista ou entrevistas de celebridades dizendo como ele era, prefere centrar-se no cineasta e mesclar vida e obra costurada pela fotografia em preto e branco. Bárbara sobrepõe cenas da vida pessoal e da obra de Hector, trazendo à luz os pontos em que a vida do diretor servia de ponto de inspiração para seus trabalhos. O formato faz do filme uma homenagem contundente, com momentos em que exibe uma rotina assustadora de tratamentos e desejos que talvez nunca se realizassem - um deles serve para uma das cenas mais bonitas do filme, um jantar de despedida com os amigos. O filme acaba dando ainda mais destaque para Meu Amigo Hindu/2015, o último longa do diretor em que Willem Dafoe vive seu alter-ego em luta contra o câncer. O trabalho de Bárbara foi premiado como melhor documentário no Festival de Veneza por mexer com nossas memórias e ser um trabalho bastante sensível diante de um período tão delicado na vida do casal. Imagino as horas de material que ela tinha para trabalhar e optou por deixar o filme enxuto com seus 75 minutos. Ainda que não tenha sido lembrado no Oscar (principalmente pela pouca divulgação que obteve nos Estados Unidos), Babenco - Alguém tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou é um filme especial para quem aprecia a carreira do cineasta e até reinventa o final desta história de forma inusitada ao som de Radiohead. 

Bárbara Paz: memorável estreia na direção. 

Babenco - Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou (Brasil/2019) de Bárbara Paz com Hector Babenco, Bárbara Paz, Willem Dafoe, Sonia Braga e Jack Nicholson. ☻☻☻

Nenhum comentário:

Postar um comentário