Jude e Carrie: mansão assombrada pelas aparências.
Não são poucos os que clamavam uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz para Carrie Coon por sua interpretação em The Nest (que preferiram traduzir por mais um O Refúgio do que batizar com o literal O Ninho por aqui). Carrie tinha uma carreira premiada no teatro até começar a receber papeis de destaque sem séries de televisão e convites para o cinema. Embora sempre tenha habilidade de tornar interessantes papéis de coadjuvante (sua estreia no cinema foi como a irmã de Ben Affleck em Garota Exemplar/2014), agora ela tem sua primeira grande protagonista. Ela vive Alisson O'Hara, uma professora de equitação que tem ao lado do esposo Rory (Jude Law) e filhos uma vida confortável em Nova York, mas por conta dos negócios do esposo, a família precisa se mudar para o Reino Unido. Aparentemente Rory se sente em casa, já que volta para sua terra natal enquanto os outros membros da família passam por um período de estanhamento que parece comum à mudança para um casarão um tanto, sombrio. De início o espectador vai achar o filme bastante sem graça por conta da forma como o diretor Sean Durkin (do anterior Martha Marcy May Marlene/2011) resolve revelar aos poucos a realidade por trás daquela situação. Para começar a mudança na fotografia (assinada pelo húngaro Mátyás Erdély) ajuda bastante a criar a atmosfera necessária para o filme brincar com as simbologias de casas mal assombrada com o horror da inadequação e o distanciamento que recai sobre aquela família. Cada um começa a se sentir cada vez mais solitário naquele casarão imponente, que cai como uma luva para esconder um verdadeiro jogo de aparências que Rory experimenta. Embora comece o filme bastante simpático, o maridão precisa provar o tempo inteiro que se tornou um sucesso, seja para a mãe, os patrões, os futuros sócios... mas não consegue convencer a esposa que está cada vez mais sufocada com a nova realidade. Durkin não tem pressa de apertar os nervos de seus personagens e faz uma espécie de terror psicológico que cresce em tensão e incomoda em sua segunda metade. Se Jude Law não inova em seu personagem, Carrie Coon carrega a responsabilidade de estabelecer o vínculo com a plateia e mantê-la ao seu lado durante toda a sessão (vale lembrar que os dois foram indicados ao Gotham Awards por seus trabalhos). A atriz tem um trabalho perfeito de construção interna de uma personagem, seus gestos, olhares e posturas compõem uma personagem soterrada por aquela realidade enganosa criada pelo esposo. Se existe um problema no filme é o seu desfecho - que é onde a plateia imagina que seria de pura explosão. Mas será que os O'Hara continuarão presos naquela casa (que está bem longe de ser seu ninho)?
O Refúgio (The Nest / Reino Unido - Canadá / 2020) de Sean Durkin com Carrie Coon, Jude Law, Oona Roche, Charlie Shotwell, Tanya Allen e Michael Culkin. ☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário