Tryne e Gustav: rumo à tragédia.
Peter (Magnus Krepper) e Anne (Tryne Dyrholm) são casados e vivem com as duas filhas pequenas numa rotina que funciona feito um relógio. Ele trabalha como físico, ela é advogada que trabalha com casos de abuso sexual e as coisas começam a ficar tensas quando Peter precisa trazer seu filho, Gustav (Gustav Lindh) para viver na mesma casa que eles. Gustav é fruto do primeiro casamento de Peter e seu comportamento rebelde lhe custou a matrícula em uma escola e a falta de paciência da mãe em lidar com ele. É fato que Gustav é um tanto arredio, por mais que suas pequenas irmãs demonstrem empolgação com a sua presença. Já Anne não vê a sua chegada com bons olhos, pelo menos até que ao se deparar com o estado morno de seu casamento, ela note que ter um jovem rapaz, repleto de testosterona possa ser algo tentador. É importante que ao se deparar com o dinamarquês Rainha de Copas, o espectador não se engane perante o que presencia. Não é uma história de amor. Trata-se aqui de uma mulher mais velha que seduz um adolescente e sabe exatamente o que fazer quando a coisa começar a desandar. A alusão do título à clássica personagem de Alice no País das Maravilhas, famosa pelo bordão "cortem a cabeça dela" não é por acaso, lá pelo terceiro ato temos a impressão que é exatamente esta a ordem que Anne dará ao rumo da vida de seu enteado, afinal, até mesmo em termos profissionais, ela conhece as estratégias necessárias para desmontar qualquer argumentação que possa destruir sua reputação. A dinamarquesa May El-Toukhy demonstra habilidade em construir uma narrativa desiludida sobre um relacionamento proibido, caprichando nas entrelinhas de gestos e diálogos. Há de se destacar a construção instigante de Anne (em mais um bom trabalho de Tryne Dyrholm a protagonista de Nico1988) ao longo da história, já que sabemos pouco sobre o seu passado e existem indícios de que ela mesma tenha sobrevivido a um relacionamento abusivo. Quando seu casamento se percebe em uma encruzilhada o filme se torna ainda mais doloroso para a plateia, que compartilha com ela e o enteado a verdade de toda a situação, enquanto Peter se demonstra cada vez mais perdido até o final trágico. O tom amargo do filme lhe rendeu o prêmio da audiência em Sundance em 2019 e quatro prêmios Bodil (o Oscar dinamarquês): melhor filme, melhor atriz (Tryne), melhor ator coadjuvante (Gustav) e fotografia.
Rainha de Copas (Dronningen / Dinamarca - 2019) de May El-Toukhy com Tryne Dyrholm, Gustava Lindh, Magnus Krepper e Liv Esmår Dannemann. ☻☻☻☻
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