quinta-feira, 8 de maio de 2025

NaTela: Thunderbolts*

Florence e seus amigos: heroísmo e saúde mental. 
 
Concebido para ser uma espécie de Esquadrão Suicida da Marvel, o filme que tinha a missão de juntar um grupo de personagens renegados do estúdio recebeu uma missão extra ao longo do tempo: empolgar a plateia saturada de produções de super-heróis que apresentam mais do mesmo. A Marvel cometeu tantas variadas bobagens desde o seu auge com o evento que foi Vingadores: Ultimato (2019) que ela mesma ficou perdida em meio a todos os projetos e personagens que deixou ao longo do caminho (a lista gigantesca inclui desde o filme dos Eternos, passando por SheHulk, Shang Chi, Echo e a lista segue...). O próprio MCU percebeu que a coisa estava degringolando e viu que estava na hora de puxar o freio de mão e elaborar melhor seus projetos (talvez As Marvels/2023 seja o ponto mais baixo do estúdio, já que reuniu três personagens importantes só para criar um pastiche sem graça do universo em que estão inseridas). Ano passado a Marvel resolveu nos agraciar com Deadpool e Wolverine (2024) para aprofundar o clima de galhofa que se tornou o multiverso no objetivo de capitalizar sucessos passados embalado pela nostalgia dos fãs ainda dispostos a gastar dinheiro para ver seus heróis na telona (e o filme se tornou o segundo mais visto de 2024 com quase um bilhão e meio nos caixas). Não sei vocês, mas no lançamento de Capitão América: Admirável Mundo Novo (2024) senti um climão de ressaca e ninguém se empolgou muito com o filme (e não posso falar muito porque ainda não o assisti). Diante de tudo isso, Thunderbolts* tem o objetivo de voltar a nos empolgar com o universo Marvel nas telonas e, o melhor de tudo, ele consegue. Saí do cinema com a esperança de que o MCU pode voltar aos trilhos depois de tantos projetos mal planejados em sua conturbada Fase5. Devemos agradecer muito ao diretor Jake Schreier que torceu o nariz para a ideia inicial do filme e com os roteiristas Eric Pearson e Joanna Calo conseguiu dar um coração para a trama. Assim, a história começa com uma crise existencial vivida por Yelena (Florence Pugh, ótima como sempre), que após tantos acontecimentos complicados em sua vida de mercenária percebe que precisa fazer algo mais na vida. Essa crise a leva a conversar com a patroa, a diretora da CIA, Valentina Alegra (Julia Louis-Dreyfus, vivendo a versão mais sombria de Celina Meyer de Veep) em busca de um trabalho menos clandestino. Não demora muito para ela se ver junto com os personagens Fantasma (Hannah John-Kamen), Treinadora (Olga Kurylenko), Agente Americano Wyatt Russell e o desconhecido Bob (Lewis Pulman) em uma missão que parece cada vez mais uma queima de arquivo. Eles nem imaginam que aquele é só o início de grandes problemas que lidam diretamente com as ambições de Valentina (que responde por um processo de impeachment que pode sepultar de vez sua carreira) e o resultado de uma experiência que pode sair do controle. Jake Schreier (que antes dirigiu Frank e o Robô/2012 e a série Treta/2023 ) conduz seus personagens em uma sintonia perfeita em uma trama que se beneficia pelo sabor do imprevisível, finalmente aqui, nós tememos pelos personagens, com a sensação de que algo muito ruim pode acontecer - especialmente quando somos apresentados ao vilão da história que ganha ainda mais força quando o filme revela tratar-se de saúde mental (e adorei a referência com Quero Ser John Malkovich/1999 quando os personagens pulam de uma lembrança para outra como se passeassem por cômodos do inconsciente). A ideia de tratar um assunto sério, e em constante debate nos dias atuais, não oferece ao filme um viés oportunista, pelo contrário, cria uma base sólida para a construção da história que a torna mais coerente desde o seu ponto de partida. Obviamente que não posso deixar de mencionar a presença do Soldado Invernal (Sebastian Stan) e o Guardião Vermelho (David Harbour) ao longo da trama, mas quem brilha mesmo é Florence Pugh, mais uma vez se reafirmando como um dos grandes nomes de sua geração. Thunderbolts* ganha pontos por trazer uma trama conectada ao gigantesco universo Marvel, mas que consegue ser redondinho e independente, Quarteto Fantástico deve seguir pelo mesmo caminho e, se for assim, já podemos comemorar. 
 
Thunderbolts* (EUA-2025) de Jake Schreier com Florence Pugh, David Harbour, Sebastian Stan, Julia Louis-Dreyfuss, Wyatt Russell, Lewis Pullman, Hannah John-Kamen, Olgua Kurylenko e Geraldine Viswanathan.   

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