Gilles e Jean: o risco de fazer um filme sem importância.
O francês Jean Dujardin atua no cinema desde 2002, mas desde a década de 1990 era um rosto conhecido na TV francesa. Apesar dos vários trabalhos, Dujardin nunca foi um dos nomes mais badalados do cinema francês, sua consagração aconteceu mesmo foi com O Artista (2011), espécie de brincadeira com o cinema mudo que deu certo nas mãos do diretor Michel Hazanavicius (e ganhou 5 Oscars). Pelo papel, o ator ganhou fama mundial como galã de Hollywood que precisava adaptar-se ao cinema falado. O trabalho lhe rendeu muitos prêmios importantes - e culminou com o Oscar. Mas desde que recebeu o prêmio sua carreira não deslanchou como esperavam. Os papéis no cinema francês não o colocaram novamente em foco e em Hollywood se limitou a participações especiais em alguns filmes (como O Lobo de Wall Street/2013). Assim, Dujardin pode ser lembrado como um dos casos de oscarizados que padecem de uma espécie de maldição, especialmente se levarmos em consideração que seu filme após o sucesso de O Artista foi a comédia safada Os Infiéis. A ideia nasceu do próprio astro, que pensou num filme episódico que contasse com curtas de diversos diretores sobre a infidelidade, sendo que, os protagonistas dos curtas são vividos pelo próprio Dujardin e Gilles Lelouche. O objetivo era reviver o clima das comédias sexuais italianas (que inspiraram até as pornochanchadas no Brasil), mas o resultado desagradou desde a divulgação dos primeiros cartazes. Não era para levar a sério o tom jocoso da divulgação, mas consideraram o filme ofensivo desde aquele momento. Quando o filme estreou, a coisa desandou de vez, especialmente por procurarem nele algo que nunca ambicionou ser. É verdade que suas partes não trazem nada de muito especial, as tramas sobre os dois amigos que traem suas esposas e depois voltam para casa como se nada houvesse ocorrido, ou do grupo de auto-ajuda onde todos os adúlteros só pensam em uma noite de sexo com a psicóloga que conduz as reuniões, ou as tentativas de um homem trair a esposa durante uma convenção... não trazem nada de muito original. No entanto, os episódios dos dois amigos que resolvem aprofundar mais "os laços" numa viagem a Las Vegas e a acalorada discussão de um casal que descobre a infidelidade um do outro após um jantar com os amigos pode proporcionar alguns momentos interessantes. São eles que me fizeram pensar que se não fosse episódico, mas um filme de história única com começo, meio e fim envolvendo os acontecimentos que surgem na tela, o longa poderia resultar em algo mais consistente. Costurando seus curtas o resultado soa repetitivo e um tanto redundante, camuflando o que alguns curtas possuem de mais interessante. No fim das contas, a impressão que fica é que Dujardin tinha no inconsciente a vontade de separar sua imagem do galã do longa de Hazanavicius (que dirige uma das histórias), as cenas de nudez debochadas e uma reveladora cena gay com Lellouche, demonstra que o ator não tem pudores diante das câmeras - resta saber se depois de tantos prêmios, não houve propostas mais interessantes para explorar o potencial do sorridente ator.
Os Infiéis (Les Infidèles/França-2012) de Emmanuelle Bercot, Jean Dujardin & outros, com Jean Dujardin, Gilles Lellouche, Karine Ventalon e Pierre Benoist. ☻☻
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