Keira, Benedict e seus colegas de elenco: belo filme quadrado.
Com oito indicações ao Oscar (Filme, diretor, ator, atriz coadjuvante, roteiro adaptado, edição, design de produção, trilha sonora original) chega aos cinemas brasileiros o elogiado O Jogo da Imitação, filme que conta parte da história do matemático Alan Turing (vivido com o talento habitual de Benedict Cumberbatch), que durante a Segunda Guerra Mundial ajudou a Inglaterra a desvendar os códigos misteriosos da máquina alemã conhecida como Enigma. A máquina realizava uma combinação de caracteres que mudavam de significado sempre que o relógio batia à meia-noite (o que impossibilitava que a Inglaterra e seus aliados previssem os planos do inimigo e impedissem os avanços da Alemanha nazista). As combinações beiravam o infinito para o grupo de meia-dúzia de homens que foi contratado para desvendar o código alemão. Enquanto seus colegas quebravam a cabeça para descobrir o próximo passo dos alemães, Turing gastava seu tempo desenvolvendo uma máquina capaz de descobrir o significado dos caracteres através de sucessivas combinações em tempo hábil para intervenções militares. No entanto a tarefa é mais complicada do que parece, já que decifrar a Enigma beirava o impossível com a tecnologia dos meados da década de 1940. Além dessa parte histórica, o filme explora a sexualidade de Turing, um sujeito reservado e antissocial que despertava a fúria de seus colegas de trabalho. Com uma enorme dificuldade de comunicação, fazer amizades lhe parece tão difícil quanto decifrar os códigos militares dos alemães. Sua maior afinidade acontece com Joan Clarke (Keira Knightley), com quem consegue certa afinidade por ela ser tão estanha no ninho quanto ele (ele com suas reservas para silenciar a homossexualidade e ela por ser mulher num universo majoritariamente masculino), a sintonia entre os dois é tão forte que eles mergulham num noivado fadado ao fracasso. Enquanto o passado é apresentado, conhecemos acontecimentos posteriores, onde o segredo de Turing torna-se alvo de investigações policiais que suspeitam que ele seja um espião - e vale lembrar que ser gay era considerado crime no Reino Unido até 1967, sob pena de sofrer castração química). Como dá para perceber, há um bocado de assunto no roteiro do estreante Graham Moore, o texto é defendido por um bom elenco (que ainda conta com Matthew Goode, Allen Leech, Charles Dance e Mark Strong) mas é explorado de forma um tanto conservadora pelo cineasta norueguês Morten Tyldum (que mesmo sem apresentar nenhuma novidade, foi indicado ao Oscar de direção). Em alguns momentos Tyldum chega a irritar com a sua necessidade de resolver os conflitos antes que gerem desconforto na plateia. Existem alguns conflitos (rasos) rumo ao final do filme e cenas que claramente não aconteceram, mas que pretendem reforçar a atmosfera triste do filme. Provavelmente a maioria dos espectadores nem irão se incomodar com a visão tradicional que Tyldum imprime a história, até porque estarão absorvidos pela atuação precisa de Cumberbatch na pele do gênio que construiu o tataravô do computador. Talvez na reta final das premiações, a visão um tanto dura da história de um personagem tão fascinante colaborou para que Benedict perdesse seu favoritismo para outro ator inglês que vive um gênio real (era visível o desapontamento de Benedict quando perdeu o Globo de Ouro para Eddie Redmayne que vive Stephen Hawking em "A Teoria de Tudo", tanto que nem foi ao SAG para ver o adversário ser premiado). Benedict é a alma de O Jogo da Imitação, já que o filme anuncia o conceito interessante de que homossexuais enrustidos, espiões, agentes da inteligência, mulheres inteligentes e todo tipo de gente imitam códigos de conduta para ficar a salvo de represálias, isso poderia resultar num filme tão brilhante quanto seu protagonista se tivesse um pouco mais de ousadia no ano em que enfrenta Birdman, Boyhood e O Grande Hotel Budapeste no Oscar.
O Jogo da Imitação (The Imitation Game/EUA-Reino Unido/2014) de Morten Tyldum com Benedict Cumberbatch, Keira Knightley, Mark Strong, Matthew Goode e Allen Leech. ☻☻☻
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