sábado, 28 de abril de 2018

Na Tela: Estrelas de Cinema Nunca Morrem

Annette e Jamie: história de amor real. 

Indicado a três prêmios BAFTA deste ano, Estrelas de Cinema Nunca Morrem (título bem menos esperto que  Film Stars Don't Die in Liverpool) tinha grande torcida para colocar Annette Bening no páreo de melhor atriz no Oscar mais uma vez. A indicação ficou na vontade, mas a atriz realizou mais um trabalho memorável em sua carreira. Ela interpreta Gloria Grahame, atriz que começou sua carreira ainda no cinema mudo nos anos 1940 e ganhou um Oscar de Coadjuvante em por Assim Estava Escrito (1953). Era sua segunda indicação ao prêmio da Academia e a consolidou como estrela - rendendo piadas até hoje por ser dela o discurso mais curto de um artista ao receber a estatueta (ela disse apenas "muito obrigada" e saiu do palco, rendendo risos na plateia). O fato é que no filme de Paul McGuigan (que já fez de tudo e aqui tem o seu melhor trabalho), esta parte real da história pouco importa, já que os talentos de Annette e Jamiel Bell (o já crescido Billy Elliot/2000) garantem a atenção da plateia a este romance. O filme retrata o relacionamento entre a californiana Gloria e o jovem inglês Peter Turner, um aspirante a ator que morava com os pais em Liverpool. Os dois se conhecem durante uma temporada de trabalhos teatrais dela na Inglaterra e a sintonia entre os dois é quase imediata. O filme trabalha bem a ideia de como o brilho daquela mulher o atraiu e como o interesse de um pelo outro era quase inevitável. Além de ter traços semelhantes ao de Gloria, Annette constrói uma verdadeira diva experiente de Hollywood no papel (uma diva de verdade, não essas celebridades bregas que acham que são divas só porque são famosas). A voz macia, os gestos elegantes, a sensualidade precisa e a inteligência para lidar com humor diante dos percalços do estrelato, está tudo presente no trabalho de Bening. Jamie Bell segue a interpretação da parceira de perto, ele também foi lembrado no BAFTA, sendo indicado a melhor ator e oferece consistência ao seu personagem (que poderia ser mero coadjuvante, mas que cresce entre as idas e vindas da história que retratam duas fases distintas no relacionamento dos personagens). Bell fica ainda mais interessante quando sabemos que o filme é uma adaptação do livro de memórias de seu personagem sobre o tempo em que viveu com Gloria - com direito até a uma temporada nos Estados Unidos. Embora o filme se enrole um pouco na construção de alguns mistérios (desnecessários) na trama, o filme constrói um retrato interessante sobre a história dos dois. McGuigan conduz o filme com serenidade e faz bom uso de fundos projetados como nos clássicos de Hollywood (em alguns casos o resultado é belíssimo), realizando um retrato elegante de sua personagem real. Gloria experimentou vários casamentos, teve filhos e sentia uma atração irresistível por homens mais jovens. Fica notável sua dificuldade em perceber que envelhecia e a preocupação com a aparência - que acabou antecipando sua despedida. No entanto, o que poderia ser o retrato fútil de uma estrela de cinema se torna a construção de uma personagem apaixonante com o talento de Annette. Annette já foi indicada cinco vezes ao Oscar (e merecia, pelo menos mais umas cinco) e ainda que não tenha ganho nenhuma, já recebeu algo muito mais difícil em Hollywood: o coração do maridão Warren Beatty. Desde 1992 que o coração de um dos galãs mais cobiçados da história do cinema lhe pertence, diferente de Gloria, talvez ela não ganhe um Oscar por um filme, mas tem tudo para se tornar lendária por tudo o que representa. 

Estrelas de Cinema Nunca Morrem (Film Stars Don't Die in Liverpool/Reino Unido - 2017) de Paul McGuigan com Annette Bening, Jamie Bell, Vanessa Redgrave, Julie Walters, Frances Barber e Stephen Graham. ☻☻☻

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