quinta-feira, 12 de abril de 2018

Na Tela: Jogador Nº 1

Tye: avalanche de easter eggs. 

Steven Spielberg construiu sua fama em Hollywood com base em uma revolução nos filmes de entretenimento. Pode se dizer que muito do que vemos entre as maiores bilheterias de cada ano não existiriam se ele não houvesse mudado a forma com que os estúdios percebem este tipo de cinema. Depois ele precisou fazer filmes sérios para ser consagrado como um cineasta de prestígio, por vezes amargou fracassos, em outros colheu elogios e ganhou Oscars (só de diretor ele tem dois na estante). O estranho foi que em suas últimas aventuras pelo mundo milionário das superproduções, ele amargou filmes que não conseguiam ser a sombra do que ele foi no passado. Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (2008) deixou os fãs mais confusos do que satisfeitos, a animação As Aventuras de Tintim (2011) era mais bem feita do que empolgante e O Bom Gigante Amigo (2016) foi rotulado como um dos mais frustrantes de sua carreira. A chance de levar para as telas a obra de Ernest Kline era a grande chance do diretor entrar em sintonia com seu novo público para o século  XXI. Jogador Número 1 era tudo que Spielberg precisava para se comunicar com o público jovem atual, afinal, tem a chance de lidar com toneladas de efeitos especiais, ritmo vertiginoso e easter eggs - e este conceito  faz parte importante da história. São tantas referências escondidas no filme que assisti-lo se torna um verdadeiro desafio para saber identificar todos - e Spielberg ainda teve a elegância de cortar todas as alusões ao seu trabalho que estavam presentes no livro. A história em si não tem nada demais, mas serve de fio condutor para o diretor criar um mundo imagético próprio, repleto de símbolos da cultura pop (com curiosa ênfase nos anos 1980 e 1990) e que se misturam com um simples clique dos usuários do Oasis. Oasis é um mundo virtual onde a humanidade prefere viver conectada do que perceber a realidade cinzenta e sem muita perspectiva do mundo real. É neste mundo futurístico em frangalhos que vive o protagonista Wade (Tye Sheridan, o jovem Ciclope de X-Men: Apocalipse/2016 - que aqui usa óculos iguaizinhos ao do herói). No jogo ele é Parzival, um dos personagens que parte na busca de easter eggs escondidos pelo criador do Oasis e que servirá para derrotar o empresário megalomaníaco Sorrento (Ben Mendelsohn). Boa parte do filme se passa no mundo de fantasia, onde Wade, ou melhor, Parzival tem amigos que nem conhece no mundo real - pelo menos até ele ser perseguido por Sorrento. O filme é uma correria num verdadeiro espetáculo visual, poderia ser ainda mais interessante se o roteiro não optasse por diálogos simplistas e algumas situações que parecem puro clichê. Como diversão o filme funciona muito bem, mas perde a chance de ser uma alusão mais densa ao mundo fascinado (e viciado) por tecnologia que vivemos hoje. Porém, pode ser eu que tenha envelhecido demais para ficar satisfeito com este filme.  Não duvido que o longa será um sucesso ao redor do mundo e possa até se tornar uma série de sucesso nos cinemas, mas isto me faz pensar em outro ponto que nem é tão relevante agora: Tye Sheridan já me parece no limite para viver um adolescente. O ator mirim cresceu e se tornou um ator esforçado, mas quem rouba a cena é sua parceira de cena, Olivia Cooke. Cooke foi revelada na série Bates Motel e ganhou a tela grande com o ótimo Eu, Você e a Garota que Vai Morrer (2015) e aqui, prova mais uma vez que é impossível não se tornar fã dela. Espero que ela faça mais filmes depois deste aqui. 

Jogador Número 1 (Ready Player One/EUA-2018) de Steven Spielberg com Tye Sheridan, Olivia Cooke, Ben Mendelsohn, Mark Rylance, Simon Pegg e Phillip Zao. ☻☻☻

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