Joseph: figura controversa.
No marasmo de poucas ideias que assolam Hollywood uma tendência ganhou força nos últimos anos: fazer versões dramatizadas de documentários premiados. Como o grande público tem alergia à palavra documentário (que muita gente escuta "filme chato" quando escuta falar de um), contar a mesma história com um ator famoso se tornou um recurso recorrente no cinema americano. Se em 2014 o longa Citizen Four de Laura Poitras ganhou fama e o Oscar de melhor documentário por mergulhar nas polêmicas envolvendo Edward Snowden, o diretor Oliver Stone considerou que poderia fazer uma versão com atores daquela história. Se o documentário é praticamente uma entrevista sobre as descobertas de Snowden ambientado em um quarto de hotel, mas cheio de tensão sobre o momento em que aquele material foi registrado - pouco antes da fuga e exílio do analista de sistemas, por outro lado o novo filme é bem menos envolvente. No filme de Oliver Stone, o que vemos é um filme bastante tradicional, que tenta reproduzir os dilemas morais do protagonista ao mesmo tempo que investe em alguns dramas poucos trabalhados de sua vida pessoal (sobretudo no relacionamento com a namorada vivida por Shailene Woodley), esta falta de profundidade também afeta todos os outros personagens que cruza sem caminho (basta ver o "chefe" encarnado por Rhys Ifans que está sempre pelo meio do caminho). Na pele do protagonista, o bom Joseph Gordon Lewitt convence como o rapaz tímido, reservado e brilhante (é curioso lembrar que o ator também fez um outro filme adaptado de um documentário antes deste aqui: A Travessia/2015 em que encarnava o equilibrista francês Philippe Petit). Para se diferenciar do documentário, o filme conta um pouco como foi a vida militar de Snowden, sua passagem pela CIA e seu trabalho junto com polêmicas operações que violavam a privacidade de pessoas comuns em nome de medidas de segurança do governo americano. Não resta dúvidas de que a história é interessante, que um bando de gente desinformada vai ficar chocado com o que aparece em cena e que o filme deve ter rendido discussões acaloradas depois das sessões, no entanto, a produção está longe de ser empolgante. Oliver Stone faz um filme longo e um tanto sem energia que dá voltas em torno de si mesmo por boa parte do tempo. Talvez se eu não houvesse assistido ao documentário, Snowden houvesse me empolgado mais, por outro lado, tenho saudades do que o antigo Oliver (diretor do clássico Platoon/1986 e do insano Assassinos por Natureza/1994) faria com um material desses nas mãos. No Brasil a situação ficou ainda mais interessante com o subtítulo Herói ou Traidor, o que instiga ainda mais a controversa trajetória do rapaz, afinal ele pode ser os dois, dependendo do ponto de vista de quem observa a história.
Snowden - Herói ou Traidor (Snowden - EUA / 2016) de Oliver Stone com Joseph Gordon Lewitt, Shailene Woodley, Melissa Leo, Zachary Quinto e Rhys Ifans. ☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário