Gordon como Petit: sotaque francês e vertigem.
Graças aos deuses do cinema que Robert Zemeckis deixou de fazer filmes de animação e voltou a dirigir filmes à moda antiga, afinal, em mais de uma década que separa Náufrago (2000) de Voo (2012), seus filmes feitos com computação gráfica nunca apresentaram o mesmo vigor e energia de suas obras anteriores. Prova de que o diretor ainda é respeitado foi que A Travessia foi um dos filmes mais aguardados do ano passado, no entanto, ficou de fora das grandes premiações por um motivo compreensível: conta a mesma história do oscarizado O Equilibrista (2008), o cultuado documentário de James Marsh sobre a aventura de Phellipe Petit ao caminhar em um cabo de aço erguido entre as torres do World Trade Center no ano de 1974. Zemeckis conta a mesma história com uma estrutura narrativa diferente, não chega a ser a história da vida de Petit (vivido com dedicação por Joseph Gordon-Levitt), dedicando poucas cenas para o aprimoramento do personagem à sua atividade profissional. O cineasta investe numa atmosfera com toques de fantasia para contar parte de sua história na França (destaque para Ben Kingsley como o mentor Papa Rudy de nacionalidade incerta) até que tem a ideia mirabolante de caminhar entre as torres gêmeas. Enquanto conhece seus cúmplices na aventura, Zemeckis capricha no tom otimista do filme e faz malabarismos para manter os diálogos em inglês tendo um protagonista francês para dar conta (e haja sotaque entre os atores). O filme ganha pontos quando investe no tom de aventura quando Petit se aproxima de sua proeza, já que sua famigerada travessia foi realizada na ilegalidade, tendo que driblar seguranças num plano elaborado e ainda lidar com a polícia quando estava sendo realizada. Porém, durante a caminhada que Zemeckis prova que ainda é um dos diretores de Hollywood que sabem exatamente como utilizar efeitos especiais como recursos narrativos. As tomadas da travessia sobre a cidade de Nova York são vertiginosas em sua escolha de ângulos, que valorizam os riscos e a beleza daquele momento, o que se revela um triunfo para o diretor. Sem aprofundar muitas questões sobre a vida de Petit e sua trupe, o filme revela-se feito na medida certa para entreter a plateia e confirma que Joseph é um dos atores mais carismáticos que Hollywood tem à disposição (além de convencer com o exaustivo sotaque francês durante toda a narrativa).
A Travessia (The Walk/EUA-2015) de Robert Zemeckis com Joseph Gordon-Levitt, Charlotte LeBon, Ben Schwartz, James Badge Dale e Ben Kingsley. ☻☻☻
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