Mustafa, Hader, McAvoy, Jessica e Ryan: vinte e sete anos depois.
Quando IT - A Coisa (2017) estreou o público parecia desconfiado se o filme daria bom caldo nas telonas. A obra já havia sido adaptada em formato de minissérie em 1990 e fez a glória das locadoras com seus dois episódios em formato de longa-metragem de hora e meia. Andy Muschietti resolveu fazer diferente e dividiu o livro em duas partes, deixou a parte das crianças para o primeiro filme e a segunda, com os personagens já adultos, para a segunda. Se no primeiro a ideia funcionou bem, na continuação coisa já é um pouco diferente. Embora tenha um elenco bem selecionado (alguns por sugestão dos atores mirins, outros escalados por semelhança física mesmo), o roteiro tem uma dificuldade danada de explorar o que a vida fez com os integrantes daquele grupo de amigos após vinte e sete anos. Ele até arrisca, mas sempre recorre à fase infantil dos personagens para garantir nossa empatia. Deste jeito, muitos aspectos que poderiam tornar o filme mais rico perante os medos dos personagens ficam de lado na criação de sustos para a plateia. Eu adoraria ver o filme explorando mais como Beverly (vivida por Jessica Chastain na fase adulta) consegue dar um basta em seu histórico de relacionamentos abusivos, ou como o crescido Eddie (Andy Ransone) se viu casado com uma figura feminina muito parecida com a própria mãe. Mesmo James MacAvoy (que vive o Bill adulto e escritor de livros de terror) e Jay Ryan (o gordinho Ben que emagreceu e ficou com pinta de galã) não ganham muitas camadas na disputa pelo coração de Beverly. Até a participação de Stanley adulto (Andy Bean) é apressada e até confusa. Quem acaba ganhando um pouco mais de destaque é Mike (Isaiah Mustafa) que se atribui a missão de reunir os amigos para derrotar o palhaço assassino (vivido novamente com dedicação por Bill Skarsgard) e Richie (com Bill Hader fazendo o possível e o impossível na ampliação de um dos aspectos mais sutis do livro sobre a personalidade do personagem). Embora tenha problemas em sua execução é visível como Andy Muschietti aprecia o livro e a história que tem em mãos, no entanto, ele se sai infinitamente melhor quando explora o lado mais psicológico da história, explorando mais a angústia dos personagens perante suas feridas do que em monstros de computação gráfica. O próprio início do filme consegue ser assustador com uma cena de violência que reflete bem os tempos de intolerância que vivemos, não por acaso protagonizada por dois atores assumidamente gays (Taylor Frey e Xavier Dolan), o início revela que o filme está antenado com os horrores do mundo atual, mas este elemento se dilui ao longo de todo o filme. O Capítulo Dois tem menos fôlego e um roteiro menos redondo que o anterior, mas funciona ainda que dependente do primeiro filme. Embora tenha mais cenas grandiloquentes (e outras que me provocaram risadas), a minha cena favorita é aquela com Bill Hader encarando Pennywise visto por um grupo de pessoas hipnotizadas com o que está acontecendo (e você não sabe se é real ou ilusório, sempre que o filme borra estas fronteiras ele fica mais interessante, pena que acontecem poucas vezes). Existem outros momentos legais como captar as referências às outras obras de Stephen King (que faz até uma participação especial no filme), mas manter o tom por mais de duas horas quarenta minutos é uma tarefa realmente complicada.
IT: Capítulo 2 (IT: Chapter Two /EUA - Canadá / 2019) de Andy Muschietti com Jessica Chastain, James McAvoy, Bill Hader, Bill Skarsgaard, Isaiah Mustafa, Andy Ransone, Jay Ryan, Jaeden Martell, Wyatt Oleff, Sophia Lillis, Jeremy Ray Taylor, Taylor Frey e Xavier Dolan. ☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário