Nó na garganta: cinco meninos injustiçados.
Tirando o confuso Uma Dobra no Tempo (2018), a americana Ava DuVernay tem se mostrado uma cineasta contundente. Depois do aclamado Selma (2014) e do documentário A 13ª Emenda (2016), a diretora reconstitui um dos casos mais vergonhosos de racismo durante uma investigação nos Estados Unidos. Em 1989 cinco adolescentes negros do bairro do Harlem foram acusados de estuprar uma mulher que se exercitava no parque durante a noite. Ainda que não houvessem provas contra os cinco garotos, a forma como a investigação foi conduzida fez com que muita gente acreditasse que os cinco eram realmente culpados. Coube às famílias a árdua tarefa de provar que tudo era um grande engano. Passando por interrogatórios forjados, manipulação de provas e construção de evidências que nunca existiram, os cinco meninos comem o pão que o sistema judiciário amassou. Se de um lado está a promotora que se alimenta do sensacionalismo para sustentar o caso (e ganhar publicidade), do outro estão jovens que seriam capazes de dizer qualquer coisa para voltar para casa depois de todo aquele mal entendido. É tanta angústia que DuVernay divide sua história em duas partes distintas, nos dois primeiros episódios, conhecemos a forma como o caso é conduzido com contornos de pesadelo kafkiano - e a produção ganha ainda mais importância em tempos em que as convicções falam mais alto do que a própria justiça. Nos dois episódios finais vemos o que acontece com os cinco meninos após suas vidas terem sido interrompidas por conta de toda a repercussão que o caso recebeu - sem esquecer que as consequências afetam também os seus familiares. Perpassa a história uma mistura de histeria coletiva, injustiças, preconceitos e estigmas que ganham forma contundente no trabalho seguro da diretora. Ava arranca atuações marcantes de todo o elenco e embora a minissérie conte com rostos conhecidos como Vera Famiga, Felicity Huffman, Joshua Jackson, John Leguizamo e Famke Janssen, o destaque fica mesmo por conta dos desconhecidos que aparecem na telinha. Caleel Harris (Antron), Ethan Herris (Yuseff), Marquis Rodriguez (Raymond) e Kevin (Asante Blackk) nem se conheciam antes quando são descobertos aleatoriamente pela polícia. Em comum eles moravam no mesmo bairro e estavam no tal parque no dia e na hora errada. No meio do caminho, Korey (Jharrel Jerome) resolve acompanhar o amigo Yuseff até a delegacia e sua história tem um desdobramento ainda pior do que os demais. Por ser o mais velho do grupo, o andamento de seu processo segue rumos ainda mais sombrios. Jharrel (que atuou em Moonlight/2016 e virou meme quando descobriu que o longa era o verdadeiro ganhador do Oscar de melhor filme) levou para casa o Emmy de Melhor Ator em Filme ou Minissérie. Ajudou muito para este reconhecimento ter o último episódio totalmente dedicado ao seu personagem. Vivendo Korey Wise da adolescência até a idade adulta, Jharrel (21 ano) tem momentos realmente marcantes. A minissérie foi indicada a dezesseis prêmios Emmy, oito deles para seu elenco, não por acaso ganhou também a estatueta de melhor diretor de elenco pelas ótima escalação. Olhos que Condenam é um grande acerto (no estômago).
Olhos que Condenam (When They See Us - EUA / 2019) de Ava DuVernay com Jharrel Jerome, Caleel Harris, Marquis Rodriguez, Ethan Herris, Asante Blackk, Felicity Huffman, Joshua Jackson, Vera Farmiga, Michael Kenneth Williams, Niecy Nash, Aunjanue Ellis, Marsha Stephanie Blake, Chris Chalk, Freddie Miyares, Jovan Adepo e Famke Janssen. ☻☻☻☻☻
Olhos que Condenam (When They See Us - EUA / 2019) de Ava DuVernay com Jharrel Jerome, Caleel Harris, Marquis Rodriguez, Ethan Herris, Asante Blackk, Felicity Huffman, Joshua Jackson, Vera Farmiga, Michael Kenneth Williams, Niecy Nash, Aunjanue Ellis, Marsha Stephanie Blake, Chris Chalk, Freddie Miyares, Jovan Adepo e Famke Janssen. ☻☻☻☻☻
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