Russell e Jack: pai e filho em comédia romântica australiana. |
De vez em quando eu procuro um filme que ouvi falar tempos atrás e que nunca assisti. Quando é uma raridade, sinto como se eu ganhasse uma estrelinha na vida cinéfila (quando se trata de um clássico... é como se eu recebesse uma medalha). Dia desses eu recebi uma estrelinha por ter encontrado o australiano Um Caso de Amor, filme estrelado por Russell Crowe quando ele tinha 30 anos e nem imaginava que iria fazer carreira nos Estados Unidos. Crowe já tinha chamado atenção em A Prova (1991) e estava em alta por lá com seu trabalho como o skinhead de Romper Stomper (1992) e decidiu fazer um trabalho totalmente diferente. Ele interpreta Jeff, um bombeiro hidráulico que vive com seu pai, Harry (Jack Thompson), desde o falecimento da matriarca da família. Harry não se importa que o filho seja homossexual, pelo contrário, ele gostaria muito de ser apresentado a algum parceiro do rapaz que é extremamente discreto com sua vida amorosa. Faz um tempo que Jeff pretende ter um relacionamento sério, mas a situação é mais complicada do que ele imagina. Eis que um dia ele conhece Greg (John Polson) e a coisa parece seguir por um caminho diferente, porém, o pretendente enfrenta problemas em se assumir para a família o que o causa um desconforto ainda maior quando é tratado com plena naturalidade por seu futuro sogro. Harry também está procurando uma namorada e o receio da forma como ela lidar com a sexualidade de seu filho pode ser um problema. O filme dirigido por Geoff Burton e Kevin Dowling é bastante leve e espirituoso, apresentando a cumplicidade entre pai e filho sem exageros, assim como envereda pelo território da comédia romântica driblando alguns clichês. O longa ainda ganha um ar moderninho quando os personagens quebram a quarta parede e conversam com o espectador como se fôssemos amigos de longa data - muitas vezes o recurso é utilizado para contar a história da avó materna de Greg, que na terceira idade investiu em um relacionamento com uma mulher. Intercalando a vida amorosa de seus personagens, o filme flui sem problemas até mesmo quando um golpe do destino modifica a dinâmica entre pai e filho - e o que poderia escorregar para o melodrama segue sem maiores tropeços. Russell Crowe e John Polson estão muito convincentes em cena. Quem está acostumado a ver o Gladiador Crowe em papéis mais agressivos, irá se surpreender com a desenvoltura em suas cenas com John Polson (o que deve ter impedido o filme a passar na Sessão da Tarde nos anos 1990). No fim das contas, Um Caso de Amor (o título nacional meio equivocado para o original A Soma de Nós) é um filme sobre a busca pela cara metade como tantos outros que são lançados todos os anos, porém, ver um filme de 1994 (trinta anos!!!) lidando com tanta naturalidade com a homossexualidade de seu protagonista nos faz repensar onde foi que a coisa desandou para os tempos conservadores em que vivemos. Vale lembrar que este foi o último filme da fase australiana de Crowe, no ano seguinte ele já era contratado pela produtora Sharon Stone para ser um dos pistoleiros de Rápida e Mortal (1995) e o resto da história todo mundo sabe. Curiosidade, o filme tem uma mensagem totalmente oposta de Boy Erased (2018), filme em que Crowe vive um pai que acredita na cura gay de seu filho.
Um Caso de Amor (The Sum of Us/Austrália - 1994) de Geoff Burton e Kevin Dowling com Russell Crowe, Jack Thompson, John Polson, Deborah Kennedy, Joss Moroney, Mitch Mathews, Des James e Julie Herbert. ☻☻☻
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