Mahito e a Garça estranha: morte e legado aos olhos de Myiazaki. |
Ganhador do Oscar de melhor animação em 2024, O Menino e a Garça está em cartaz na Netflix (assim como um vasto acervo de obras do Estúdio Ghibli). O filme conta a história de Mahito (voz de Soma Santoki), um menino que depois de perder a mãe durante na guerra, muda-se para o campo junto com o pai e a madrasta, passando a ser cuidado por um grupo de senhoras empregadas de seu pai. O garoto tem tem problemas de relacionamento com outros moradores locais e em meio à exuberante natureza local, o menino percebe que existe uma garça sempre por perto - e o pássaro terá importância fundamental quando a madrasta do menino desaparecer. Este é o primeiro acontecimento de uma série de situações estranhas que irão levar Mahito de encontro com um mundo fantástico, que pode revelar segredos de sua própria história, como o destino de sua mãe e o paradeiro da madrasta desaparecida. Em se tratando do Estúdio Ghibli é redundante falar do capricho visual, das escolhas das cores e o traço inconfundível do mestre Hayao Myiazaki que já anunciou a aposentadoria três vezes e sempre retorna para o delírio dos fãs. Esta produção, embora baseada na obra de Genzaburo Yoshino lançada em 1937, quatro anos antes do nascimento de Hayao, que presenciou desde muito pequeno o Japão destroçado pela Guerra. Este é é um dos pontos que demonstra que esta é a obra mais pessoal do cineasta. Embora guarde semelhanças com outras obras do mestre (incluindo o meu favorito A Viagem de Chihiro/2001), O Menino e A Garça tem fortes elementos sobre o dilema atual de Hayao sobre sua carreira e legado junto ao estúdio Ghibli. Uma apreciação mais detalhada destes aspectos podem ser vistos no vídeo dedicado ao filme do canal Minutos de Sanidade Sanidade do Youtube, que explora camadas surpreendentes da relação entre o autor e sua obra. Se você tem a sensação de que o filme repete a fórmula de outros filmes do estúdio e apresenta mais do mesmo em sua narrativa, você irá se surpreender. Toda fantasia presente no filme o carrega de analogias sobre a criação e a morte, basta pensar na figura do Tio avô, que construiu um mundo mágico, mas que está preocupado em quem irá herdar tudo o que realizou, da mesma forma existe o luto do menino por sua mãe, que talvez encontre conforto na aceitação de que ela se foi e resta-lhe conviver com quem está presente em sua vida naquele momento. Visto em todas as suas simbologias, o filme se torna bastante complexo e talvez mereça ser visto outras vezes para que se possa absorver todas as intenções do cineasta.
O Menino e a Garça (Kimitachi wa dô ikiru ka/ Japão - 2023) de Hayao Myiazaki com vozes de Soma Santoki, Kô Shibasaki, Yoshino Kimura, Aimyon, Masaki Suda e Takuya Kimura. ☻☻☻☻
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