Hitoshi Omika: a natureza é o maior atrativo. |
Depois de uma breve passagem pelos cinemas brasileiros, no novo filme do cineasta japonês Ryusuke Hamaguchi chegou na Mubi recentemente. Depois de todo prestígio e prêmios de Drive My Car/2021, quem for assistir sua nova obra esperando algo parecido poderá se frustrar. No recente O Mal Não Existe, a trama gira em torno de uma comunidade que vive na vila de Muzubike, em Tóquio. Todos vivem em harmonia com a natureza por lá, apreciando as árvores, o convívio com os animais, a água potável direto da fonte... mas tudo isso pode estar ameaçado com o projeto de instauração de um glamping por lá. Eis que os idealizadores do projeto são obrigados a fazer uma audiência pública com os moradores para apresentar o projeto e são surpreendidos com muitas críticas e sugestões para que o impacto sobre o meio ambiente da localidade seja amenizado. Os construtores não parecem muito preocupados com o bem estar do local, mas com o tempo que possuem para tirar o projeto do papel e não perder o investimento. Para defender o projeto usam todos aqueles jargões sobre os benefícios para a comunidade, o aumento de lucros locais e novos empregos por ali. Não convencem. Então, eles precisam de uma nova estratégia para conseguir amenizar a insatisfação local. Eu não fazia a mínima ideia sobre o que era glamping, mas descobri que é uma espécie de camping mais glamouroso, com instalações luxuosas e tudo mais, o que não impede que o projeto apresentado tenha seus problemas (especialmente relacionado com a poluição da fonte d'água local). PAra agregar confiança ao projeto, eles tentam convencer um morador local a se envolver com o projeto. Eles escolhem Takumi (Hitoshi Omika), um morador local que ocupa o cargo de "faz tudo" da região. Ele vive sozinho com a filha, Hana (Ryô Nishikawa) e em determinado momento, um acontecimento com a menina conduzirá a trama. Embora o filme comece de forma bastante hipnótica com a câmera em movimento em meio às árvores e a trilha sonora magnífica de Eiko Ishibashi, o que vemos a seguir não consegue sustentar nossa atenção por muito tempo, os momentos em que pretendem demonstrar a sintonia da população local com a natureza é bastante arrastada. Quando se instaura o conflito dos moradores com as mudanças anunciadas, o filme se apoia em um lugar comum dos filmes que abordam o tema do desenvolvimento regional com sustentabilidade, mas depois não sabe muito bem o que fazer. Tive a impressão que diante de toda a complexidade de Drive my Car, Hamaguchi quis fazer um filme de menor escala, mas o roteiro parece ter sido apenas um esboço das intenções do cineasta. Mais uma vez o diretor investe na poesia das imagens, agora para explorar o lugar do homem na natureza, e, de fato, ela é a personagem principal de toda a narrativa. Embora eu ache a última parte a mais interessante (emulando sutilmente a ideia de que a natureza tem seus meios de reagir e se tornar até ameaçadora), considero pouco para um filme de uma hora e quarenta minutos. O Mal não Existe seria um dos meus curtas favoritos se tivesse uma hora a menos de projeção. Da forma como está, soa como um exercício de paciência disfarçado por toda a beleza natural filmada por Hamaguchi.
O Mal Não Existe ( Aku wa sonzai shinai/ Japão - 2023) de Hyusuke Hamaguchi com Hitoshi Omika, Ryô Nishikawa, Ayaka Shibutani, Hazuki Kikuchi e Hiroyuki Miura. ☻☻
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