Ryan e Hugh: uma zoeira completa. |
Deadpool e Wolverine tem uma longa pendenga nos quadrinhos da Marvel, a coisa é tão evidente que no primeiro filme solo do mutante com garras de adamantium (X-Men Origins: Wolverine/2009) inventaram de colocar os dois juntos. Ninguém se empolgou com o encontro naquele filme. Na verdade, ninguém curtiu aquele Deadpool e somente Ryan Reynolds percebeu que se apertasse os botões certos, o personagem poderia funcionar no cinema. O ator bancou a ideia de trazer um personagem mais fiel aos quadrinhos e radicalizou uma estética que contaminou vários filmes de heróis desde então (nem sempre alcançando o resultado desejado). Com a primeira aventura solo de Deadpool (2016) sendo abraçada pelo público com sua agressividade, palavrões e várias piadas infames por minuto, uma sequência veio logo a seguir e deixou a sensação que apesar de toda a energia... havia algo de desestruturado naquela aventura. Ainda assim, bancar um terceiro filme soava inevitável. Com toda a confusão de fusão com a Disney e a Marvel amargando fracassos recentes, a promessa de promover um reencontro digno entre Deadpool e Wolverine parecia digno de crédito e com isso, em tempos em que filmes de heróis já saem com o carimbo de gênero saturado, o longa se tornou uma das maiores bilheterias do ano. O principal motivo é juntar dois personagens icônicos na tela e, sobretudo, tendo um deles defendido por um ator que jurou jamais repetir o personagem. Hugh Jackman parecia ter aposentado seu uniforme de Wolverine no muito digno Logan (2017), muito por conta da idade, problemas de saúde e mais de suas décadas conciliando outras produções com o papel do herói. O que um contrato robusto não faz? Ele está de volta, com o mesmo temperamento rabugento de sempre, mas serve de inevitável escada para o galhofeiro personagem de Ryan Reynolds. No entanto, não esperem um roteiro lapidado, o longa é uma bagunça! Mas ninguém parece se importar muito, já que a trama se apropria da ideia de multiverso para fazer uma homenagem aos filmes de personagens da Marvel que apareceram em produções de outros estúdios, alguns com sucesso e outros nem tanto, além de trazer um outro cujo filme nunca saiu do papel (se é que um dia chegou nele). Assim temos de volta Blade (Wesley Snipes), Elektra (Jennifer Garner), Johnny Storm (Chris Evans) e até o Gambit (Channing Tatum) que nunca antes havia aparecido na telona. O difícil é criar uma história entre as piadinhas que surgem a cada cinco minutos. Tascaram várias cenas de ação que surgem sem motivo aparente e que não deixam a narrativa fluir como deveria. A ideia interessante de colocar os personagens num ambiente semelhante a Mad Max, um pós-apocalipse do que sobrou em ruínas do universo marvete da Fox (literalmente), funciona, mas não vai muito além disso. Pelo menos a trama arranjou lugar para colocar a AVT (a Autoridade de Variância Temporal) para sugerir sentido nisso tudo e desenvolveram uma boa vilã para dar algum sustento ao filme. A vilã da vez é Cassandra Nova, a irmã gêmea do Professor Xavier que é vivida pela ótima Emma Corrin (que parece estar se divertindo bastante com as malvadezas de uma personagem menos séria do que está acostumada). No entanto, a sensação é que pegaram um monte de ideias aleatórias, bateram no liquidificador e o filme ficou pronto é inevitável. O sucesso nas bilheterias só ressalta que o público queria se divertir na sala de cinema e, como Deadpool disse uma vez, a saga do Multiverso não funcionou (mas pelo menos serve para fazer piada, despertar nostalgia e criar uma grande baboseira para o estúdio ainda lucrar mais de um bilhão de dólares ao redor do mundo). Enquanto todo mundo reclama da zona que os filmes da Marvel virou, Ryan Reynolds percebeu isso, abraçou a zona completa e fez um sucesso. A lição disso tudo é: não se leve a sério.
Deadpool e Wolverine (EUA - 2024) de Shawn Levy com Ryan Reynolds, Hugh Jackman, Emma Corrin, Chris Evans, Wesley Snipes, Jennifer Garner, Channing Tatum, Dafne Keen, Morena Baccarin, Matthew MacFadyen e Aaron Stanford. ☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário