domingo, 10 de agosto de 2025

Combo: Ao meu Pai

Meu pai faleceu no ano de 2023 e desde então o Dia dos Pais não fazsentido. Se antes, todos os dias ele estava presente, agora, todos os dias eu lembro dele ainda mais. Durante muito tempo nosso relacionamento foi um tanto complicado, mas depois que me formei e passei a morar longe, passamos a aproveitar com um pouco mais de afeto a presença um do outro. Acho que nunca escrevi por aqui que devo muito ao meu pai o meu interesse por cinema. Foi ele que me levou diante de uma telona pela primeira vez e várias outras vezes até minha adolescência - e ele perceber que meu gosto estava ficando um tanto quanto (nas palavras dele mesmo) estranho. Este combo é para lembrar cinco filmes que vi ao lado do meu pai e que fizeram parte da minha gênese como cinéfilo:

5 Império do Sol (1987) talvez por conta da assinatura do diretor de ET e Indiana Jones, meu pai achou que era uma boa ideia me levar para ver este filme em sua semana de estreia. Confesso que por muito tempo se tornou o filme mais assustador que eu já tinha visto na vida. Afinal, na minha cabeça, era sobre um moleque rico (vivido por Christian Bale em sua estreia aos 13 anos) que se perde dos pais na China quando ela é invadida pelo Japão. Ele acaba testemunhando os horrores da guerra e termina enviado para um campo de prisioneiros. Com duas horas e meia de duração, o filme me pareceu interminável e fiquei chocado pensando que aquilo tudo era a maior tragédia pela qual um garoto poderia passar. Eu tinha oito anos e vi um filme no capricho que se tornou um dos maiores fracassos comerciais do Spielberg. 
 
4 Ghost (1990) buscando pela memória para lembrar dos filmes que assisti com o meu pai, foi uma grata surpresa me dar conta de que vi este aqui pela primeira vez ao lado dele no cinema. Talvez seja o filme mais fora da curva do gosto cinematográfico do meu pai, cem cenas de ação e explosões, a história de amor entre Molly (Demi Moore) e seu amado Sam (Patrick Swayze), que, falecido, tenta se comunicar com ela (ajuda de Whoopi Goldberg) sobre um perigo iminente prendeu a atenção dele por conta da mistura de romance, humor e um certo suspense. Fico pensando a torcida do meu pai ao ver a Demi ser finalmente indicada ao Oscar por A Substância (2024) e a decepção que seria vê-la perder naquela noite que seria sua reparação histórica. 
 
3 Robocop (1987) Clássico dos anos 1980, cheio de violência e cenas escabrosas em um futuro distópico. A história do policial que se torna uma experiência robótica da polícia, virou um verdadeiro marco do cinema pela forma crua com que o diretor Paul Verhoeven contou a história com uma visão pessimista do futuro. Lembrando que assisti ao filme com menos de dez anos de idade, penso a forma como fiquei impressionado com a narrativa e comprei história em quadrinhos e vi o desenho que a produção gerou depois. Hoje eu só lembro de como o meu pai ficou decepcionado com aquele remake feito pelo José Padilha em 2014. 
 
2 Indiana Jones e a Última Cruzada (1989) Acho que este é o filme que vi ao lado do meu pai que lembro com mais carinho. Provavelmente pela dinâmica e a química irresistível que existia entre pai e filho no próprio filme. Harrison Ford como Indiana e Sean Connery como o pai Henry Jones são um espetáculo a parte neste filme em que o filho tem que salvar o pai que foi sequestrado pelos nazistas. No meio da aventura, nossos heróis ainda precisam proteger o Santo Graal em uma Europa assolada pela guerra. Por muito tempo, eu achei que o título era uma referência ao fim da trilogia com chave de ouro, mas com o tempo outros filmes foram feitos e continuei achando que deveria ter parado por aqui (e meu pai também). 
 
Peter Pan (1953) Não sei dizer ao certo o ano em que assisti este clássico da Disney no cinema, mas levei um susto ao saber que ele foi feito em 1953, mas eu assisti com o meu pai ainda pequeno no cinema. Li em algum lugar que houve uma cópia restaurada que entrou em cartaz nos anos 1980 e a coisa fez sentido. Lembro até hoje de sair em um domingo com meu pai e irmos assistir ao filme na Cinelândia no centro do Rio de Janeiro. Era um cinema gigante, com tela enorme. Na cidade em que eu cresci não tinha cinema e demoramos quase uma hora para chegar lá. Foi a primeira vez que fui ao cinema e ainda lembro da sensação de deslumbramento quando as luzes apagaram e o filme começou. Nascia um cinéfilo ali. Obrigado pai. Te amo. 

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