Jake e Tobey: transfusão de personalidade entre dois irmãos.
Sem o traje de Homen Aranha, Tobey Maguire tem se voltado novamente para as produções intimistas que lhe deram algum reconhecimento na década de 1990. Ele chegou a ser indicado ao Globo de Ouro de ator dramático por sua atuação nesse drama dirigido por Jim Sheridan, mas como o filme foi mal nas bilheterias faltou boa vontade para impulsioná-lo nas demais premiações. Para piorar, ainda se trata da refilmagem de um filme dinamarquês de mesmo nome de 2004, elogiado pela eficiência com que a diretora Suzanne Bier não deixa a coisa descambar para o melodrama. Sheridan muda alguns detalhes da trama, mas ela é basicamente a mesma: o militar Sam Cahill (Maguire) é o filho exemplar de uma família, casado com a namorada de adolescência (Natalie Portman, sempre correta), pai de duas meninas e que é o total oposto de seu irmão rebelde (Jake Gyllenhaal). Quando o irmão rebelde volta para a família o desconforto do pai (Sam Shepard) é evidente, mesmo diante dos esforços da madrasta (Mare Winningham) o clima pesa. Acaba que o exemplar Sam vai para a guerra e é dado como morto. A esposa acaba se aproximando do cunhado e quando as coisas vão voltando ao lugar, Sam retorna tendo que lidar com seus fantasmas de guerra e o ciúme da relação que se estabeleceu entre a esposa e o irmão rebelde - que se mostra mais redimido que as piores expectativas. O que compromete o filme é justamente seu último ato, quando todas as soluções soam apressadas e explora pouco a relação estabelecida entre os membros dessa família com dolorosas feridas mal cicatrizadas. Maguire impressiona com a culpa injetada em seu personagem, pena que Sheridan amarele exatamente nesse ponto quando deveria explorar a inusitada transferência de personalidade entre os irmãos - algo surpreendente para quem já dirigiu filmes como Meu pé esquerdo (1989) e Em nome do Pai (1993). Os demais personagens sofrem com o pouco espaço que lhes coube até o fim da sessão. Se Sheridan não quisesse poupar o expectador da angústia de seu protagonista o filme poderia ter sido mais bem sucedido. Ainda que inferior ao original (afinal, como sabe o Dogma 95, dinamarquês não tem frescuras) merece uma visita para ver Maguire sepultando Peter Parker em uma aparência cadavérica de alguém que perdeu a vida após retirar a de outra pessoa.
Entre Irmãos (Brothers/EUA - 2009) de Jim Sheridan com Natalie Portman, Tobey Maguire, Jake Gyllenhaal, Bailee Madison, Mare Winningham, Taylor Geare, Patrick Flueger e Carey Mulligan. ☻☻☻
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