Noomi e Michael: química no romance contra vilões pervertidos.
Há quem diga que a trilogia Millennium escrita pelo cueco Stieg Larsson possui fãs tão ardorosos quanto a saga Crepúsculo. Pela lógica, enquanto o público teen se diverte com o amor de uma adolescente sem sal por um vampiro, os adultos gostam mesmo é de ver um jornalista idealista apaixonado por uma punk problemática cheia de piercings e tatuagens. Bem, eu consigo enxergar uma relação. Enquanto a Suécia se prepara para saborear a última parte da trilogia que chega aos cinemas (A Rainha do Castelo de Ar, que sucede A Menina que brincava com Fogo) chegou nas locadoras brasileiras a primeira parte desse cult sueco. Os Homens que não Amavam as Mulheres nos apresenta os personagens principais da série, no caso o jornalista Mikael Blomkvist (Michael Nyqvist) que está enfrentando um processo de calúnia e difamação. Por esse processo ele acaba sendo afastado da revista em que trabalha, a Millenium, mas é logo escalado por um ricaço para investigar o sumiço de uma sobrinha desaparecida há mais de 40 anos. Mikael foi escolhido após uma minuciosa pesquisa da investigadora (e hacker profissional) Lisbeth Salander (Noomi Rapace). De visual inusitado, desde a primeira cena sabemos que a moça tem uma história obcura a esconder - e o fato dela ter um curador só acentua essa suspeita. Os dois personagens só irão se conhecer depois que o jornalista empacar na lista de suspeitos (no caso toda a família da desaparecida) e a hacker começar a dar uma mãozinha. O diretor Niels Arden Oplev consegue manter o suspense a maior parte do tempo (mesmo que desperdice situações como a atração de Mikael por uma possível suspeita, mas tudo bem o filme já tem mais de duas horas). Porém, o que manteve meu interesse foi a expectativa pelo encontro do casal e depois a química entre o par de atores mais do que eficientes que o diretor escolheu. Nyqvist não demonstra dificuldade em compor um sujeito boa-praça e Noomi tem nas mãos algumas das cenas mais chocantes que vi esse ano - e as faz com muita desenvoltura. Obviamente que um filme de 16 anos exige um pouco de estômago, existe muito de misoginia na trama (e isso o título entrega sem pudores) e um bocado de sadismo. Nesse ponto me incomoda um bocado como as cenas de torturas sexuais são bem mais longas do que a noite de amor dos protagonistas - que parece bem mais engraçada do que sensual. Também me incomoda como tudo parece se resumir à violência sexual a partir de determinada parte da trama - o que pode até justificar o interesse de Lisbeth no caso investigado pelo jornalista, se levarmos em consideração sua trajetória pessoal. Mas, como já disse antes, o que me fez acompanhar o filme foi a relação estabelecida entre o jornalista e a nossa anti-heroína com tatuagem de dragão embalada por um suspense composta a maior parte do tempo por diálogos ágeis. Falando nisso, o filme entrou na lista de produções suecas a ganhar uma versão Made in Hollywood. Depois de Cabeça fora D'Água (1993), Nightwatch (1997), O Invisível (2002) e o recentíssimo Deixe Ela entrar (2008), Os Homens... ganhará uma versão americana pelas mãos de David Fincher protagonizada por Daniel Craig. Resta saber como o diretor irá lidar com o sucesso mundial dos filmes da trilogia, ainda mais que as cenas mais obscuras tem muito do estilo que o diretor de A Rede Social esbanjava na época de Se7en, Clube da Luta e Zodíaco. Seja como for, só espero que ele não fique alongando o final como o original.
Os Homens que não Amavam as Mulheres (Män som hatar kvinnor/Suécia-2009) de Niels Arden Oplev com Michael Nyqvist e Noomi Rapace. ☻☻☻
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