Rapace: adeus aos piercings e tatoos.
Há quem me ache conservador por não ser fã ardoroso dos filmes da trilogia Millenium, mas quero deixar claro que não tenho nada contra os livros de Stieg Larsson, mas ando um pouco cansado dessas tramas sombrias sobre violências sexuais, assassinatos e acho todas elas sempre paródias de si mesmas. Pelo jeito eu não sou o único, já que depois do fracasso comercial de Os Homens que Não Amavam as Mulheres (2009) em nossos cinemas, as continuações suecas foram lançadas diretamente em DVD. O mais curioso é que finda a trilogia, fica claro que esse nome dado ao primeiro longa (e retomado na refilmagem holywoodiana de David Fincher, de bilheteria igualmente decepcionante para o estúdio) tem um caráter desengonçado perante as outras duas partes. Seria melhor utilizar o título original: A Garota com Tatuagem de Dragão, afinal de contas, esta personagem, assim como A Menina que Brincava com Fogo e A Rainha do Castelo de Ar são a mesma personagem, Lisbeth Salander. Ela é o maior trunfo da trilogia de Larsson, uma punk, hacker, antisocial, com piercings, boa de briga e inteligente, mas de passado tão obscuro quanto a sua maquiagem. É em nome desse personagem que se desenrola a trama, apresentando-a na primeira parte ao jornalista investigativo da prestigiada revista Millenium, Mikael Blomkvist (Michael Nyqvist), que irá nutrir por ela gratidão, amizade e alguma frustração sexual. Eu já disse antes que o aspecto que mais me agradou no primeiro longa foi a química entre os dois personagens, química esta que é cozida em banho maria na segunda parte e que não fica muito diferente nesta conclusão da saga que tropeça tanto quanto a segunda em manter um clima ágil numa trama que é mais conspiratória do movimentada. No capítulo anterior, Salander reencontra seu pai em circunstâncias não muito agradáveis e o este filme começa exatamente do ponto que o segundo acabou. Lisbeth passa de vítima à ré, sendo acusada da tentativa de assassinar o pai e seu passado em clínicas psiquiátricas servem só para atrapalhar. Enquanto ela fica no hospital esperando para se recuperar e ir à julgamento, Mikael prepara uma edição da Millenium com o objetivo de inocentá-la e um grupo de poderosos planejam usar Lisbeth como bode expiatório para suas atividades ilegais. Esses são os três núcleos de um filme onde pouca coisa acontece entre algumas ameças, duas ou três cenas de ação relevantes e muitos nomes de personagens sobrepostos de forma exaustiva. Tudo isso para chegar no julgamento de Lisbeth e tudo beirar a irritação com a pobreza de argumentação do psiquiatra que cuidou dela quando era criança. Francamente, se tudo que Lisbeth fala no julgamento não é acreditável, era melhor prendê-la logo de uma vez! Da forma como é mostrada, nem a melhor carranca de Noomi Rapace é capaz de diminuir nossa raiva pela forma esquemática como as coisas são mostradas pelo diretor Daniel Alfredson - que repete a mesma morosidade do longa anterior. Para piorar, ainda estica o final até não poder mais num desfecho pobre para o encontro de Lisbeth com o irmão. Duvido muito que o livro seja assim, senão não seria um sucesso no mundo inteiro. Como momento memorável do filme está a chegada de Lisbeth vestida a caráter para o julgamento (que é mais interessante do que o morno reencontro com Mikael - eu não queria que eles se beijassem, se agarrassem, mas a cena poderia ter um pouco mais de intensidade), pelo menos dessa vez, entre os personagens principais existe uma pessoa de verdade: a advogada que tenta defender Lisbeth. Se David Fincher resolver filmar as duas últimas partes da trilogia, não será difícil superar as versões originais.
A Rainha do Castelo de Ar (Luftslotter som sprängles/Dinamarca-Suécia-Alemanha/2010) de Daniel Alfredson com Noomi Rapace, Michael Nyqvist e Lena Endre. ☻☻
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