quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

CATÁLOGO: O LUTADOR

Rourke: a arte imita a vida.

Terminando nossa retrospectiva Darren Aronofsky antes da estréia de Cisne Negro, chegou a vez de O Lutador, quarto filme do diretor. Trata-se de seu filme mais convencional e não deixa de ser um efeito imediato das críticas recebidas por Fonte da Vida (2006) que chegou a ser vaiado no Festival de Veneza – festival que ironicamente premiou O Lutador com os prêmios de melhor filme e ator (Mickey Rourke), ou seja, Aronofsky entendeu o recado e ainda utilizou essa oportunidade para ganhar muita publicidade para sua carreira. O filme colheu indicações a quase todos os prêmios – incluindo o Globo de Ouro, que premiou Rourke (que ganhou fôlego para chegar ao Oscar). Lembro que muita gente cobria o filme de elogios, mas devo admitir que é o filme Aronofskyano do qual menos gosto. Darren utiliza um ritmo quase documental ao acompanhar a trajetória de um lutador decadente, que quer abandonar banalidade de seu trabalho (as lutas ensangüentadas são as coisas mais marcantes do filme) e ter uma vidinha normal, mas percebe que isso é mais difícil do que pensava. Em seu caminho tenta ajustar seu relacionamento com a filha (Evan Rachel Wood) e se interessa por uma stripper mãe solteira e de bom coração (Marisa Tomei, indicada ao Oscar de coadjuvante e espantando de vez os comentários maldosos de quando foi premiada por Meu Primo Vinny/1992). O filme é propositalmente sujinho e tem muita nostalgia (o protagonista vive dizendo que tem saudade dos anos 1980, que não por acaso foi o auge de Rourke), mas apesar dos enquadramentos curiosos (como as tomadas que seguem o personagem como se estivesse sempre entrando no ringue) ainda acho que é muito semelhante a todos os outros filmes sobre lutadores (sendo que o mais recente deles, o elogiado O Vencedor é produzido por Darren). O diferencial está mesmo na presença de Rourke, que empresta muito de sua história para o personagem. Famoso na década de 1980 (onde protagonizou cults como Coração Satânico e Barfly, ambos de 1987) o ator resolveu ser lutador de boxe e ficou deformado por cirurgias plásticas que lhe conferiram um dos rostos mais estranhos de Hollywood. Aqui, apesar da carranca, ele finalmente foi levado a sério alcançando momentos realmente comoventes (como a cena em que chora ao confessar seus arrependimentos para a filha e na despedida de sua amiga stripper ao final). No fim das contas Darren ajudou Rourke a renascer e Rourke ajudou Darren ao dar maior projeção perante o público. No entanto, apesar dos elogios e prêmios, Darren afirmou que continua sendo difícil conseguir financiamento para seus filmes (e por isso topou fazer o novo solo de Wolverine, para ter a experiência “diferente” de fazer um filme que “todo mundo quer fazer”. O diretor tem ressaltado as semelhanças que existem entre O Lutador e Cisne Negro, só que todo o surrealismo presente em seu filme mais recente foi banido de O Lutador, que parece uma pegadinha para aqueles que não conheciam o seu trabalho.


O LUTADOR (The Wrestler/EUA - 2008) de Darren Aronofsky com Mickey Rourke, Marisa Tomei e Evan Rachel Wood. ☻☻☻

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