Há uns três filmes que David Fincher parece disposto a ser reconhecido como um cineasta maduro e acho difícil que ele perca o Oscar de direção neste ano. Seu perfeccionismo ficou mais polido e as invencionices visuais parecem estar se aposentando (em A Rede Social por exemplo só identifiquei esse Fincher irriquieto quando um personagem joga uma cerveja contra a câmera como se fossemos um personagem num filme 3D). Nada que desmereça o trabalho do diretor, que ainda sente atração pelo lado soturno do ser humano, só que agora procura desvendá-lo de forma mais sutil. A Rede Social parece estar há léguas de distância de Clube da Luta, a grande ousadia do diretor que rendeu tantas polêmicas que acabou ofuscando a alegoria que viamos na tela. Apesar dos truques visuais e da agressividade, o filme retrata com perfeição o vazio do homem moderno que tenta preencher com o consumo um vazio existencial que cedo ou tarde gera violência. Na época muitos compararam a jornada do personagem sem nome de Edward Norton e o insano fabricante de sabonete Tyler Durden (Brad Pitt em sua segunda parceria com Fincher e num papel que só se valorizou com o tempo) como a versão masculina de Thelma & Louise (1991). Salvo as devidas diferenças estilísticas os dois tem realmente muito em comum - e não me refiro à presença de Pitt. Enquanto no filme de Ridley Scott as duas amigas apontavam o revólver para a estrutura machista das relações sociais, Durden & Cia preferem distribuir murros entre si como uma forma de se sentirem vivos. Norton interpreta com maestria (acho que esse foi seu último papel realmente bom, já que desde então tem se dedicado a produções que o tratam como se fosse um ator menor do que realmente é) um sujeito que trabalha para uma companhia não identificada que investiga problemas em carros com defeito de fabricação. Voando por aí de um lado para o outro ele não consegue dormir devido ao fuso horário e outros problemas emocionais que não podem ser sanados com seu apartamento de mobília cara. O cara acaba procurando refúgio em grupos de auto-ajuda onde cancerosos, tuberculosos ou vítimas de outras enfermidades costumam desabafar suas angústias. Entre suas viagens acaba conhecendo Tyler Durden e nos conhece Marla (Helena Bonhan Carter) uma maluquete que acabará se envolvendo com os dois amigos, ou... quase. Enquanto o protagonista mergulha em seu vazio existencial acaba fundando com Tyler o clube do título, onde um bando de marmanjos irão se encontrar para trocar socos para sairem da inércia de seus cotidianos medíocres. Enquanto trocam sopapos entre si não existe problema nenhum, o pior é quando o clube se amplia e as posturas terroristas começam a aparecer - ao ponto de gerar um plano capaz de criar um colapso econômico de escala mundial. Fincher conduz o público num mergulho frenético num roteiro que bebe diretamente na escrita agressiva e esquizofrênica de Chuck Pahlaniuk e para isso não poupa delírios visuais (o apartamento mostrado como catálogo, a caverna gélida habitada por Marla, o acidente de avião, o interior e Norton desembocando numa arma...) mostrados com um humor negro que tempera o filme em seus momentos de angústia e suspense. Visto hoje, Clube da Luta parece ter gasto todo o repertório de Fincher em malabarismos visuais. O diretor permanece arrojado visualmente, só que de forma infinitamente mais comportada. Se Clube da Luta foi lembrado no Oscar numa módica indicação ao prêmio de efeito sonoro, a guinada na carreira de David Fincher pode lhe dar o Oscar de direção (e muitos outros) no próximo domingo.
CLUBE DA LUTA (Fight Club/EUA-1999) de David Fincher com Edward Norton, Brad Pitt, Helena Bonhan Carter, Jared Leto e Meat Loaf. ☻☻☻☻☻
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