Aaron: o mercador da morte mais simpático do mundo.
Parceiro de Nicole Kidman no drama Rabbit Hole e sempre esquecido pela Academia, Aaron Eckhart esteve bem próximo de ser lembrado na categoria de melhor ator quando estrelou o irônico Obrigado por Fumar, o filme que marcou a estreia de Jason Reitman (filho do menos cortejado Ivan Reitman de Os Caça Fantasmas) no cinema. Reitman demonstra um domínio narrativo muito atraente neste filme que é basicamente um tratado sobre a retórica. Tudo bem, podem dizer que se trata sobre os bastidores da indústria do cigarro, de como eles manipulam a mídia, de como faturam milhões espalhando a morte entre a população mundial e blábláblá... mas prefiro pensar que esse é outro filme, no caso o chamado O Informante (1999) de Michael Mann, que é muito bom por sinal e que devo comentar um outro dia, uma outra hora. Obrigado por Fumar é sobre a retórica. Esse jeito de dizer uma coisa com tanta certeza e convicção que consegue convencer todo mundo de que está certo. Na Grécia Antiga, Sócrates morria só de pensar o estrago que os sofistas eram capazes de fazer ao ensinar a retórica aos jovens sem se preocupar com a essência do que estavam dizendo. É isso que Nick Naylor, o protagonista do filme, é: um sofista. Só que muito bem arrumado, com pinta de galã simpático (cortesia de Eckhart) e muito bem remunerado por defender os interesses da indústria do tabaco. O filme acompanha alguns dias na vida deste homem esperto a partir de sua participação num programa de televisão e consegue se sair de uma enrascada ao defender o fumo diante de um adolescente que está morrendo de câncer. A partir daí conhecemos seus chefes na indústria (Robert Duvall e J.K.Simmons, o ator assinatura de Reitman) e seus planos para aumentar o número de fumantes, conhecemos os amigos "mercadores da morte" de Naylor, uma mulher (Maria Bello) responsável pela retórica da bebida alcóolica e um homem (David Koechner) responsável pela retórica armamentista. Ainda tem um senador que está doido para puxar o tapete de Naylor (vivido por Willian H. Macy), uma repórter (Kate Holmes) disposta a tudo para escrever uma matéria bombástica sobre Nick e o filho de Nick (Cameron Bright). É o herdeiro de Nick que nos parece guiar na outra direção do que o protagonista faz. Seria muito fácil dizer que o menino serve para mostrar o lado humano do seu progenitor, mas é algo mais: serve para mostrar o quanto uma argumentação bem construída pode ser eficiente no embate de ideias, onde quem consegue expô-las melhor tem a vantagem. De certa forma é isso que Reitman faz com o espectador, afinal, pela forma como mostra seu personagem, dificilmente não nutrimos simpatia por Naylor, apesar de seu emprego ser execrável. Curioso mesmo é ver outro ponto da trama, a impressão dos rótulos de veneno nos maços de cigarro. Será que é preciso? Será que ninguém sabe que o cigarro causa doenças? Será que ninguém sabe que ele mata? No Brasil com aquelas fotografias de filme de terror nos maços de cigarro dizendo os malefícios do cigarro eu me pergunto até onde a retórica de fumantes e anti-tabagistas pode chegar. Questão de bom senso? Acho que Naylor chamaria isso de outra coisa, principalmente quando começa a defender que o uso de celulares não causa tumores cerebrais. Opa! Essa deu medo...
Obrigado por Fumar (Thank you for smoking/EUA-2005) de Jason Reitman com Aaron Eckhart, Cameron Bright, J.K.Simmons, Robert Duvall, Willian H. Macy e Maria Bello. ☻☻☻☻
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