A família reunida: lavando a roupa suja.
Filmes sobre encontros familiares são muito comuns, especialmente no cinema independente americano - e de vez em quando um diretor se aventura a dar conta de um filme com vários personagens lidando com os ressentimentos acumulados em anos de convivência. Dois pontos são fundamentais para a empreitada ser bem sucedida: um bom roteiro e o entrosamento dos atores. Bart Freundlich marcou sua estreia em longa metragens com um roteiro escrito por ele mesmo sobre uma família que se encontra para um dia de ação de graças, o melhor é que ele teve o bom senso de reunir um elenco de respeito para defender seus personagens. Lena e Hal (os veteranos Blythe Danner e Roy Scheider) são os pais da temperamental Mia (Julianne Moore), do bem resolvido Jake (Michael Vartan), do introspectivo Warren (Noah Wyle) e da tagarela Leigh (Laurel Holloman). Se Lena é acolhedora a ver a casa cheia novamente, Hal não vê com bons olhos que Mia tenha vindo acompanhada do marido terapeuta, Elliot (Brian Kerwin) - que chama bastante atenção de Leigh - e que Jake esteja ao lado da namorada fogosa Margaret (Hope Davis). Como a grande maioria do gênero, o roteiro explora como a família precisa lidar com as diferenças para passar um tempo juntos, é verdade que nem sempre o roteiro sabe dosar o desenvolvimento dos personagens, deixando alguns mais explorados que os outros, especialmente quando se fala daa antipatia de Mia e um namoro mal resolvido de Warren com Daphne (Arija Bareikis) - que se deve a um segredo que não rende a catarse esperada durante a sessão. Freundlich demonstra ambição ao lidar com tantos personagens em cena, erra ao exagerar no uso de cenas de sexo (todas muito discretas, mas que acontecem num encadeamento repetitivo) e acerta na frieza do reencontro que aos poucos se dissipa na convivência. Equilibrando drama e cenas de alívio cômico, o filme pode até surpreender por mostrar como pessoas de um mesmo núcleo familiar podem ser crueis com os demais por puro hábito. As ótimas Blythe Danner e Julianne Moore tem uma cena inesquecível que retrata bem essa ideia, onde a sinceridade entre mãe e filha fica palpável (ainda que dolorida). Ironicamente o elo mais fraco do elenco é Noah Wyle (que estava no auge na época como o médico novinho do seriado Plantão Médico/E.R.) que se perde em um conjunto de tiques para tentar alcançar a profundidade de um rapaz silencioso que não consegue se relacionar com o pai. O Mito das Digitais não é um filme inesquecível, mas pode agradar quem curte pendengas familiares, o mais interessante é que o filme marcou o início do relacionamento da estrela Julianne Moore com o diretor Bart Freundlich, que se casaram em 2003 e tiveram dois filhos Caleb (que completa 19 anos em dezembro) e Liv Helen (completou 14 em abril), parece até coisa de filme.
O Mito das Digitais (The Myth of Fingerprints/EUA-197) de Bart Freundlich com Noah Wyle, Julianne Moore, Blythe Danner, Roy Scheider, Michael Vartan, Hope Davis, James Le Gross e Laurel Holloman. ☻☻☻
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