Fedja, Olga, Tim, Mélanie e Benicio: problemas enfrentados com otimismo.
Infelizmente eu admito que tenho preconceitos com filmes que se aventuram a fazer comédia sobre assuntos sérios. Geralmente para ver esse tipo de filme eu preciso de muita boa vontade, estão nesse grupo filmes que tocam em assuntos delicados de forma mais leve como o holocaustiano A Vida é Bela/1997 (que eu detesto) e o câncer de 50% (2012). Recentemente chegou aos cinemas brasileiros Um Dia Perfeito, filme que mostra (de forma bem humorada) o cotidiano de um grupo de ajuda humanitária que atuoou nos Balcãs em meados de 1990. A trama gira em torno de um corpo em decomposição encontrado dentro do poço de um vilarejo e que o grupo precisa retirar para não contaminar a água da população local. Se o primeiro problema é a falta de uma corda adequada para o serviço, ao longo do dia eles irão se deparar com outras dificuldades, seja com a população, com os soldados, políticas locais... como deu para perceber de perfeito o dia não tem nada e, justamente pelo toque de ironia que perpassa todo o filme, que o diretor espanhol Fernando León de Aranoa alcança um bom resultado ao final da sessão. Este é o primeiro filme em língua inglesa do diretor que ficou conhecido por seu trabalho em Segunda-Feira ao Sol (2001) estrelado por Javier Bardem, que tentou uma vaga no Oscar de filme estrangeiro em 2002. Aqui Aranoa também apresenta uma trama com teor humanista e valorizado pelo elenco, afinal ele conta com Tim Robbins, Benicio Del Toro, Olga Kurylenko e os pouco conhecidos Mélanie Thierry e Fedja Stukan que dão conta de manter o ritmo da narrativa perante os problemas que enfrentam. Nas andanças do grupo o que vemos são os horrores da guerra pelo olhar estrangeiro, por isso mesmo, o olhar torna-se muito próximo do espectador quando se deparam com minas terrestres, vítimas da guerra ou soldados fazendo novos prisioneiros. Esse distanciamento funciona, mas paga o preço de perder o olhar dos cidadãos que observam a guerra devastar suas vidas (e essa fagulha quase acontece quando o grupo se depara com um menino que pretende recuperar uma bola em sua antiga casa). Ao final da sessão percebe-se que existe boa vontade por parte do grupo, mas também uma atmosfera de inércia que impossibilita ações mais efetivas para o auxílio dos moradores. Em meio a contradições políticas tratadas com ironia, Aranoa consegue construir um filme que prende a atenção com a urgência de sua narrativa embalada pela trilha pop (Lou Reed, Marilyn Manson, Ramones...), além de homenagear homens e mulheres que se dedicam a ajudar a população vítima de conflitos sem sentido ao redor do mundo - e sem perder o otimismo.
Um Dia Perfeito (A Perfect Day / Espanha - 2015) de Fernando León de Aranoa com Benicio Del Toto, Tim Robbins, Olga Kurylenlo, Mélanie Thierry, Fedja Stukan e Sergi López. ☻☻☻
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