domingo, 24 de março de 2024

#FDS Diretoras: Pedágio

Kauan e Maeve: pecados pelo caminho.
 
Infelizmente não consegui fazer um Ciclo Diretoras no mês de março, mas tentei compensar dedicando esse #FimDeSemana a três cineastas que mereceram atenção na safra recente. Para fechar o fim de semana, assisti ao novo filme de Krolina Markovicz. Vale dizer que a cineasta brasileira está disposta a se tornar um dos maiores nomes do cinema nacional. Após a estreia avassaladora com Carvão (2022) a diretora retornou chamando atenção com Pedágio, seu segundo longa-metragem e que não apenas foi selecionado para o influente Festival de Toronto como também garantiu à diretora uma homenagem através do Tribute Awards que também destacou as contribuições de Pedro Almodóvar, Spike Lee e o fotógrafo polonês Lukasz Zal à sétima arte. Faltou só que o Brasil escolhesse Pedágio para disputar uma vaga na categoria de filme internacional do Oscar2024 (algo que Carvão também deveria ter conquistado). Pedágio conta a história de uma mãe que está cada vez mais incomodada com a homossexualidade do filho adolescente. Tudo que o rapaz faz a incomoda, dos vídeos que posta na internet fazendo propaganda de alguns produtos para ganhar um dinheirinho. As músicas que o menino escuta também a tiram do sério e até quando ele se fantasia para animar uma festa ela detesta. Eis que surge um curso de "cura gay" numa igreja da região e aquela passa a ser a grande chance de que o menino saia do "mau caminho". O problema é que com a mãe trabalhando no pedágio da cidade, a grana é sempre curta e o preço do tal curso é quase o valor de um salário mínimo, mas, certa de que não pode perder tão oportunidade, a "mãe zelosa" se arrisca a ser cúmplice de criminosos para alcançar seu objetivo. Pedágio demonstra mais uma vez como Karolina é dona de uma escrita esperta e de uma direção envolvente que evolui à narrativa gradativamente na ironias que o destino é capaz de arquitetar. Ainda que o visual seja um tanto sujo, as paisagens nebulosas de Cubatão nunca foram suspeitas de se tornarem tão cinematográficas. Na pele da mãe, a Suellen, a atriz Maeve Jenkins tem mais uma interpretação que a credencia como uma das atrizes mais interessantes de nosso país, afinal, ela incorpora com perfeição a ideia de que para fazer seu filho deixar de ser gay vale a pena qualquer sacrifício. Não por acaso, Tiquinho (Kauan Alvarenga) é o personagem mais sereno do filme, destoando dos outros personagens que o julgam e não veem problema em realizar outras ações que também são vistas como "pecados aos olhos de Deus". Existe uma camada religiosa no filme, mas ela só torna ainda mais estranha a motivação para que algumas pessoas ainda se incomodem com o fato de outro gostar de pessoas do mesmo sexo. Para além de todo o viés de discutir o tema do preconceito, Markovicz toca em temas bastante sensíveis relacionados ao tema, desde a relação entre mãe e filho como de Tiquinho às voltas com um mundo que o rejeita. Pedágio pode não ter o brilhantismo de Carvão, mas comprova que Markovicz merece sempre atenção.

 Pedágio (Brasil/2023) de Karolina Markovicz com Maeve Jinkins, Kauan Alvarenga, Thomas Aquino, Isac Graça, Aline Marta Maia e Erom Cordeiro.

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