quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

PL►Y: Pérola

 
Drica: luminosa matriarca do clã Rasi.

Quando Pérola (Drica Moraes) chega para morar em sua nova casa ela deixa claro para toda família que é uma mansão com piscina. Só que ao chegar, a frente estreita para estacionar o carro já deixa claro que a casa não é uma mansão. Entrando e apreciando o quintal se percebe que também não tem piscina, mas para Pérola tudo é uma questão de tempo, já que o espaço para construir a piscina tem de sobra e para deixar o quintal mais amplo, ela deseja que a mãe aceite a oferta de seu esposo para vender a casinha do lado para que o quintal fique ainda maior. Aparentemente estes são os maiores objetivos da personagem que é casada com Vado (Rodolfo Vaz), já que a casa serve de cenário para o crescimento de Mauro (Leonardo Fernandes quando crescido) e Elisa (Valentina Bandeira quando crescida). Contado entre idas e vindas, o filme começa em tom de despedida com Mauro tendo que voltar à casa para o velório de sua mãe. Contado como um álbum de memórias o filme dirigido por Murílo Benício é baseado em um dos maiores sucessos do teatro brasileiro, a peça homônima assinada por Mauro Rasi que foi dedicada à sua mãe e que ganhou os palcos com uma atuação antológica de Vera Holtz. Drica Moraes está irresistível como protagonista, ela diverte e emociona como uma matriarca radiante e é ela que salva o filme no início quando ele demora a engrenar, no entanto, conforme o filme encontra seu ritmo entre as idas e vindas na linha temporal, ele funciona que é uma beleza. Benício demonstra bastante sensibilidade na abordagem das alegrias e dramas cotidianos daquela família que também destaca a presença das famosas tias do Mauro (que virou peça de teatro e quase se tornou programa de televisão com Murilo Benício, mas dizem que não encontrou o tom certo em sua adaptação para a telinha). Gosto muito da forma como o diretor apresenta os conflitos naquela família sem exagerar nos dramas e amparando um clima familiar que parece ajustar por si mesmo os embates. Sim, existem mágoas e alguns ressentimentos, mas que são contornados com delicadeza nas relações entre os personagens. Sem exageros o filme investe num tom quase Almodovariano a maior parte do tempo e constrói um retrato bastante crível sobre as relações daquela família. Particularmente lembrei muito de minha infância e adolescência durante o filme, especialmente da casa que serviu de cenário para tudo e que, assim como no filme, parece impregnada das histórias de minha família. Acho que o maior mérito do filme é esta capacidade de universalizar os sentimentos que estão envolvidos entre os personagens,  que tem lá seus desentendimentos mas que se tornam fundamentais na construção e compreensão do outro como indivíduo. Nascido em Bauru em 1949, Rasi morou no Rio de Janeiro por mais de vinte anos e foi aclamado por suas peças desde os anos 1960. O autor faleceu em 2003 em decorrência de um câncer de pulmão. Quando Benício assistiu Pérola em 1995 conversou com Mauro sobre transformar o espetáculo em um filme, algo que permaneceu na ideia de Benício até que conseguisse concretizar seu segundo longa na direção. Murilo mostra-se mais uma vez um diretor sem firulas com a câmera, mas com um cuidado bastante palpável no trabalho com os atores muito bem escolhidos. Drica arrasa.

Pérola (Brasil - 2023) de Murilo Benício com Drica Moraes, Leonardo Fernandes, Rodolfo Vaz, Valentina Bandeira, Cláudia Missura, Louise Cardoso, Gustavo Machado e Gustavo Scalzo. ☻☻

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