Pattinson: rumo ao buraco negro da existência.
Robert Pattinson deve ter sido o ator mais comentado na internet durante esta semana. Passada a avalanche de Vingadores: Ultimato (2019), a notícia de cinema de maior projeção dos últimos dias não foi a nova adaptação de Stephen King ou uma repaginada nos Pokemons, o assunto foi mesmo a escolha do ator inglês de 33 anos para encarnar o jovem Batman da DC Comics. As especulações já apareciam faz tempo, desde que Ben Affleck abandonou o papel houve até brincadeiras em primeiro de abril sobre a escalação de Pattinson (e estendia para uma Mulher-Gato vivida pela Deusmelivre Kirsten Stewart...). A chacota em cima de Pattinson não faz sentido. Eu até mencionei no blog ao ver Bom Comportamento/2017 que Pattinson havia amadurecido muito como ator. Escolhendo papéis que podem não ter lhe rendido sucessos de bilheteria, mas que lhe tiraram a aura de galã adolescente perante os produtores. Robert se tornou um ator de verdade, mas isso não impede que ele seja perseguido pelo papel que o tornou conhecido - no caso, o vampiro Edward da saga Crepúsculo, que acabou faz tempo, mas muita gente acha que a carreira do moço parou ali. Grande engano. Ao final do ano passado, Pattinson chegou às telas com esta ficção científica cerebral dirigida pela diretora parisiense Claire Denis e ela conjuga vários elementos capazes de despertar interesse. O primeiro deles é que aos 71 anos, Claire não tem medo de se aventurar por um gênero diferente do que está acostumada. Celebrada por dramas densos, desta vez ela escolhe como cenário uma nave espacial abandonada no espaço. Quando o filme começa conhecemos Monte (Robert Pattinson) e um bebê, os dois vivem solitários ali e não fazemos a mínima ideia do que os levou para lá e tão pouco a relação que existe entre os dois. Aos poucos o filme revela alguns flashes que são prévias do mergulho no passado dos personagens. Descobrimos que aquela nave era um misto de prisão e laboratório para a geneticista Dibs (Juliette Binoche) e... deste ponto de partida o filme se desenvolve sem pressa. É lento. Claustrofóbico. Agressivo e... estranhamente sexual. Neste último ponto há de se destacar uma cena impressionante de Binoche, um misto de luxúria e bruxaria que qualquer outro diretor tornaria grotesca, mas que Claire a faz tão sublime quanto o êxtase deve ser. É interessante como o filme explora o isolamento daqueles personagens, o distanciamento entre eles e a violência das relações que explodem de forma inesperada em alguns momentos. Tão fragmentado quanto contemplativo, High Life é um filme interessante por seguir caminhos inesperados e pouco explorados no gênero, além de deixar muito nas entrelinhas. Robert Pattinson está bem em cena, demonstrando bem a exaustiva passagem do tempo para o seu personagem, os efeitos da solidão e um pouco de falta de perspectivas. Ele tem aqui mais uma parceria com Binoche (os dois apareceram juntos no superestimado Cosmópolis/2012), mas aqui a liga entre os dois funciona muito melhor. Outros destaques do elenco são André Benjamin (que hoje deve trabalhar mais como ator do que como vocalista da banda Outkast) e a talentosa Mia Goth que dá carne e osso a uma personagem sem substância para tanto. Com certeza este entrará para lista de filmes interessantes de Robert Pattinson que pouca gente vê, mas talvez ele tenha mais sucesso com O Farol (2019) filme elogiadíssimo do diretor de A Bruxa (2015) que foi exibido nesta semana em Cannes e será uma boa prévia do que o moço pode fazer na pele de Bruce Wayne.
High Life (Reino Unido / França / Alemanha / Polônia / EUA - 2018) de Claire Denis com Robert Pattinson, Juliette Binoche, André Benjamin, Mia Goth, Lars Eidinger e Ewan Mitchell. ☻☻☻☻
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