Selina e Jonah: de palhaçada à aula de política.
Enquanto a maioria da audiência ligada na HBO especula sobre o final de Game of Thrones, eu já esteou de luto por conta do término de Veep. Após sete temporadas e sessenta e cinco episódios, uma das séries mais engraçadas, ácidas e inteligentes da televisão chegou ao fim. O mais engraçado é que durante o período em que esteve no ar, o que era apenas um grande besteirol mostrou-se ter um chocante fundo de realidade com as notícias dos telejornais nos últimos anos. Criada pelo escocês Armando Ianucci (que ganhou prestígio com sua indicação ao Oscar de roteiro adaptado por Conversa Truncada/2009 e recentemente lançou o provocador A Morte de Stalin/2018), a série contou as desventuras de Selina Meyer (a ótima Julia Louis-Dreyfus), vice-presidente dos Estados Unidos e suas tentativas de se tornar a primeira mulher presidente do país. Entre tentativas de golpe, um curto período na presidência e a tentativa com unhas e dentes de ser eleita muita coisa aconteceu, muita coisa... entre piadas politicamente incorretas, alfinetadas na política mundial, delírios e um bando de assessores que pareciam disputar quem era o mais incompetente (nunca se sabia muito bem quem fazia o que), a série explorou o máximo que pode de cada situação e personagem, sempre tendo ao centro a trajetória desta sagaz candidata americana. Aos poucos novos personagens surgiam, outros desapareciam, depois voltavam, alguns ganhavam destaque em outras áreas, outros caiam em desgraça... mas Selina permanecia firme em seu propósito. O humor por vezes ofensivo dava um tom cada vez mais jocoso às jogadas política, houve mortes pelo caminho, traições e conchavos inacreditáveis que deram o tom especialmente do último capítulo. Se já não bastava os atropelos da protagonista, ainda vimos a ascensão do patife Jonah Ryan (Timothy Simons) cujo discurso beirava a acefalia nesta última temporada. Jonah passou de estagiário à um forte candidato para a Casa Branca e quanto mais se conhecia sua família de tipos estranhos ou ouvíamos suas atrocidades, mais seguidores ele garantia em sua campanha. Com o tempo as temporadas de Veep deixaram de ser apenas uma brincadeira com política e se mostraram verdadeiras aulas sobre os bastidores da política, especialmente sobre o complicado processo democrático eleitoral americano - "a gente não é bem uma democracia, mas..." disse Selina antes de cogitar fraudar as eleições sem pudores de promover um massacre no Tibete. No fim das contas, nunca ficava claro qual era o partido dela ou sua ideologia, no fundo seu interesse era ser presidente da maior potência mundial e ter o poder de fazer o que lhe desse na telha. Minorias? Direitos dos Homossexuais? Nobel da Paz? Feminismo? Tudo se tornava artifício para discursos eleitoreiros que pouco depois eram desconstruídos diante do que lhe fosse mais interessante. Apesar de tudo, sentirei saudades de Selina, de Amy (Anna Chlumsky, a menininha de Meu Primeiro Amor/1991 que se tornou uma atriz incrível), do garanhão Dan (Reid Scott), do capacho Gary (Tony Hale) e todo um staff hilariante mais perdido que eleitor em tiroteio. Descanse em paz, Selina. Obrigado pelas risadas.
Veep (EUA/2012-2019) de Armando Ianucci com Julia Louis-Dreyfus, Anna Chlumbsky, Tony Hale, Timothy Simons, Reid Scott, Matt Walsh, Gary Cole, Kevin Dunn, Sufe Bradshaw, Sarah Sutherland, Clea Duval, Diedrich Bader e Hugh Laurie. ☻☻☻☻☻
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