Hackman: tempos de paranoicos.
No século XXI, Francis Ford Coppola se tornou o "pai da Sofia". Desde Drácula (1992) que seus filmes não chamam atenção, podendo se dizer que este foi seu último grande filme (afinal, a criança envelhecida de Robin Williams em Jack/1996 serve apenas para passar o tempo e o tribunal de O Homem que Fazia Chover/1997 está longe de ser empolgante... restando ao século XXI filmes que pouca gente assistiu). Não que Coppola precise provar alguma coisa para alguém, afinal, a pessoa responsável pela cultuada trilogia Poderoso Chefão e pelo maior filme de guerra de todos os tempos (Apocalipse Now/1979) já tem crédito suficiente para o resto da vida. Coppola também fez história ao se tornar um dos poucos cineastas a ter ele mesmo como concorrente na categoria de melhor diretor no Oscar. Em 1975 ele concorreu pelo primeiro O Poderoso Chefão e este A Conversação. Pelo primeiro, Coppola levou para casa os prêmios de direção e roteiro adaptado (derrotando a ele mesmo nas duas categorias). Ao longo da história, A Conversação ficou meio de lado, embora tenha em si uma ideia interessantíssima que retrata bem o período de paranoia em que os americanos viviam após o escândalo de Watergate - que levaria ao fim a era Nixon. Embora aqui não apresente este teor político, Coppola cria sua história em torno de Harry Caul (Gene Hackman), um detetive particular que trabalha em um caso que o público descobrirá aos poucos. Até lá, Coppola irá brincar com a edição de som, com idas e vindas, novas camadas de som até que a plateia descubra junto ao protagonista com o que está lidando. O interessante é que embora dê a impressão que não existe nada demais nos registros que Harry realizou, não são poucos os que dizem que aquilo poderá custar a vida de alguém. Embora ele pareça bem resolvido com o que tem em mãos, o roteiro irá se dedicar a apresentar como este homem, que vive de descobrir segredos de estranhos, conduz sua vida particular. Em sua vida pessoal, cada diálogo, brincadeira ou momento com os amigos, sempre passam por uma releitura que instiga Harry a desconfiar de todos ao seu redor. Seria só um excesso de vigilância ou seria mesmo uma perseguição? A paranoia se torna algo comum na vida dele e o faz mergulhar em um verdadeiro abismo. Coppola constrói um verdadeiro labirinto narrativo em torno de Harry e lhe dá contornos inspirados nas obras do mestre Alfred Hitchcock. Gene Hackman está ótimo no papel título, humanizando seu personagem por camadas cada vez mais incertas diante de um verdadeiro dilema (que logo depois se vira do avesso). Destaque também para Harrison Ford num papel pequeno e ambíguo bem antes de se tornar um astro mundial com o sucesso de Guerra nas Estrelas (1977). Embora esquecido entre seus irmãos mais vistosos, A Conversação é um filme interessante (e um tanto perturbador) até hoje.
A Conversação (The Conversation/EUA-1974) de Francis Ford Coppola com Gene Hackman, John Cazale, Frederic Forrest, Harrison Ford, Teri Garr, Cindy Williams e Robert Duvall. ☻☻☻☻
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