Benedict e Kodi: as aparências enganam.
Por várias décadas diretores e produtores tentaram fazer uma adaptação cinematográfica do livro The Power of the Dog de Thomas Savage. O livro, que não foi lançado no Brasil, é considerado por muitos uma verdadeira obra-prima ao realizar sua releitura dos personagens típicos de um faroeste (estilo que é muitas vezes chamado de western revisionista, anti-faroeste ou até pós-faroeste). Eis que a neozelandeza Jane Campion (do magnífico O Piano/1993) conseguiu levar o projeto adiante e fez um dos filmes mais hipnóticos de 2021, especialmente pela forma como ela molda a história tal e qual o livro, mostrando os fatos enquanto a verdadeira história está abaixo de tudo que se ouve e se vê. Não é um trabalho fácil de ser realizado e, portanto, Jane já desponta como a favorita ao Oscar de direção que se aproxima. O filme gira em torno de Phil Burbank (Benedict Cumberbatch), um cowboy que vive na fazenda ao lado de seu irmão George (Jesse Plemons), com quem divide até o quarto. Os dois são completamente diferentes, o que Phil possui de rude e grosseiro, George possui de gentil e educado. Não por acaso, a personalidade de George é sufocada pelo irmão. Um dia os dois vão almoçar no restaurante da viúva Rose (Kirsten Dunst), que cuida do local com a ajuda do filho adolescente, Peter (Kodi Smit-McPhee). Se por um lado Phil irá destratar o rapaz, George irá se interessar por Rose e não demora muito para que os dois comecem a ter um relacionamento sério. Quando Peter vai para a faculdade, Rose e George se casam e vão morar na fazenda ao lado de Phil, que fará a vida de sua cunhada um inferno... até Peter visitar a mãe na fazenda. No entanto, em meio às grosserias de Phil, começa a acontecer uma suspeita aproximação do valentão com Peter, que começa a descobrir o que está por trás daquele comportamento desagradável. O Ataque dos Cães é um filme que funciona como o mecanismo de um relógio e requer atenção do espectador em meio à sua narrativa em que nada de muito importante parece estar acontecendo. Não por acaso, depois do último ato, muita gente resolve rever o filme e entender os detalhes que perdeu pelo caminho de suas suas duas horas de duração. Jane Campion faz um trabalho notável e tem um elenco em sintonia perfeita. Cumberbatch está ótimo como o homem que esconde seus verdadeiros sentimentos debaixo de sua sujeira (sim, dizem que Ben não tomava banho para incorporar melhor o personagem) e deve ser indicado ao Oscar de melhor ator. Kirsten Dunst também deverá aparecer no páreo de atriz coadjuvante pela árdua transição de sua personagem, assim como Kodi Smit-McPhee que está perfeito como um personagem que, assim como Phil, não se encaixa muito bem no que pensam sobre ele. Quem sai perdendo na história é Jesse Plemons que tem sua participação reduzida na segunda metade da sessão, mas nada que prejudique os caminhos de uma história de final surpreendente. Quanto ao título nacional estranho, o original O Poder do Cão (em tradução literal) é uma citação da Bíblia inglesa em que o Cão é aquele mesmo que simboliza a maldade (e pode soar até um SPOILER do desfecho).
O Ataque dos Cães (The Power of the Dog / EUA - Reino Unido - Canadá - Nova Zelândia - Austrália / 2021) de Jane Campion com Benedict Cumberbatch, Kirsten Dunst, Jesse Plemons, Kodi Smit-McPhee, Sean Keenan e George Mason. ☻☻☻☻
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