Falar de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa e atender ao pedido de Tom Holland de não divulgar SPOILERS é um grande desafio, mas eu vou tentar em respeito aos espectadores que tem o mesmo direito de vivenciar a mesma experiência na sala escura. Vou começar ressaltando o que se tornou um verdadeiro lugar-comum na era Tom Holland na pele do herói aracnídeo, afinal, quem conhece o personagem nos quadrinhos ou nos filmes anteriores, sempre percebeu que havia uma série de questões que a Marvel parecia ter alterado para enquadrar Peter Parker no seu MCU. Dentro do universo dos Vingadores (2011) o personagem se tornou praticamente um Aranha de Ferro diante de toda a tecnologia que foi incorporada ao seu uniforme, o que teve um verdadeiro efeito colateral de o tornar muito dependente do Sr. Stark para se livrar dos problemas que enfrentou até aqui em seus últimos filmes solo - vale ressaltar que a maioria dos problemas foram criados por ele mesmo e aqui não é diferente. Como todo mundo já viu no trailer, a coisa ficou complicada quando Mystério (Jake Gyllenhaal) acusou o Homem-Aranha de assassiná-lo e que Peter Parker é a verdadeira identidade do herói. Daí em diante, a vida do mocinho virou um inferno. Com a mídia contra ele e parte da sociedade considerando que Mystério era o verdadeiro herói da história, a situação fica complicada e o diretor Jon Watts não poderia continuar na comodidade do clima de filmes adolescentes como antes, afinal, era o anúncio do que todos esperavam desde que esta nova versão chegou às telas: ver o Spider-boy amadurecer e virar Spider-Man. Para isso o filme parte de mais um erro de Peter: solicitar (e atrapalhar) Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) a fazer um feitiço que faça todos esquecerem que ele é o Homem-Aranha. Bem, na verdade ele quer que a MJ (Zendaya) continue sabendo, e a tia May (Marisa Tomei) também e o Happy (Jon Favreau) e... feitiço estragado, o mundo começa a ter que lidar com vilões vindos de universos diferentes, ou melhor de fases diferentes do herói nos cinemas. Assim, Doutor Octopus (Alfred Molina), Duende Verde (Willem Dafoe), Lagarto (Rhys Ifans), Homem-Areia (Thomas Hayden Church) e Electro (Jamie Foxx em versão repaginada de sua versão anteriormente idiotizada nos cinemas) estão de volta diante de um Peter Parker completamente desconhecido. Sendo assim, Parker também não sabe do que estes vilões são capazes, mas resolve ajuda-los a superar seus problemas metendo os pés pelas mãos mais uma vez. A graça do filme é justamente tentar dar segmento à trajetória destes vilões dentro das franquias que participaram, bem, é mais do que isso: é dar segmento às franquias das quais participaram. Afinal, todo mundo sabe que a primeira trilogia de Tobey Maguire terminou com um filme ruim e o quarto filme foi cancelado depois que diretores e elenco brigaram com a Sony. No entanto, o primeiro Homem-Aranha é lembrado com muito carinho por todos os fãs. Já os filmes de Andrew Garfield terminaram justamente quando ele perdia sua amada Gwen Stacy num filme lamentável. O que Sem Volta Para Casa faz de melhor é evitar que Tom Holland também fique pelo meio do caminho com todas as críticas que sua trilogia recebeu e, para isso, o estúdio ouviu os fãs e até exagera nos fan services que vemos na tela (calma, só acho que aquela primeira cena pós-créditos não precisava, embora parte do cinema tenha ido ao delírio). Não sei se era marketing, mas Holland antes da estreia do filme dizia que era a vez de ter um Homem-Aranha de outra etnia nas telas, depois disse que queria dar um tempo na carreira de ator por fazer isso desde os onze anos de idade (só que ao mesmo tempo era noticiado que viverá Fred Astaire numa cinebiografia), mas a Sony já falou do interesse de fazer uma nova trilogia com o garoto, especialmente com o desfecho cheio de possibilidades deste aqui. No fim das contas, o filme promove uma verdadeira celebração aos fãs de diferentes gerações e, ainda que sutilmente, utiliza as diferenças entre elas para construir o roteiro cheio de nostalgia (que se amplia nos tempos sinistros que vivemos). Criado para ser acelerado, inquieto, ligado em tecnologia como o público a que se destinava, faltava aquele momento em que o Peter de Holland finalmente deveria deixar a ficha cair e ver que "grandes poderes trazem grandes responsabilidade" e que, por vezes, a consequência dos seus atos podem ser irreversíveis (e ouvir a voz da experiência faz a diferença). Melhor parar por aqui antes que eu fale mais do que devia... o fato é que com o sucesso astronômico do filme, este Homem-Aranha ainda crescerá muito diante dos nossos olhos. Até ter dor nas costas? Talvez...
Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (Spider-Man: No Way Home - EUA/2021) de Jon Watts com Tom Holland, Zendaya, Marisa Tomei, Benedict Cumberbatch, Willem Dafoe, Alfred Molina, Jamie Foxx, Charlie Cox e Jon Favreau. ☻☻☻☻
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