Para Aaron Sorkin não basta ser um dos roteiristas mais cultuados dos Estados Unidos, ele quer ser reconhecido como cineasta desde que estreou atrás das câmeras com A Grande Jogada (2017), que ironicamente lhe rendeu uma indicação de... melhor roteiro adaptado no Oscar. Aquilo deve ter soado como uma espécie de provocação e neste ano lá estava ele no Oscar novamente, só que com o amparo das sete indicações de Os Sete de Chicago (2020), que entrou no páreo de melhor filme, mas ficou de fora do prêmio de direção. Sorkin concorreu como roteirista de novo pelo texto original do longa e se ano passado a Netflix garantiu ao filme a projeção que o levou às premiações em 2021, Sorkin se aliou à Amazon para bancar seu novo trabalho como diretor. Lançado no Prime Video aqui no Brasil, Being the Ricardos chega a tempo de colocar Nicole Kidman no radar das premiações com sua interpretação da icônica Lucille Ball, estrela do cultuado seriado I Love Lucy, programa que estrelava ao lado de seu marido, Desi Arnaz (Javier Bardem) nos anos 1950. O filme acompanha uma semana nos bastidores do programa e mistura várias tensões na vida do casal que parecem anabolizadas quando Lucille cai na mira da caça aos comunistas na Terra do Tio Sam. A acusação parece girar em torno de um mal entendido, mas é o suficiente para colocar em risco não apenas o programa, mas também a carreira da atriz para sempre. No entanto, junte a isso as suspeitas de adultério do esposo, a produção do episódio semanal (que pode ser o último), a relação com os patrocinadores do programa e membros do elenco... tudo sugere que existe uma bomba prestes a explodir ao longo do filme. Tudo sugere, menos a direção de Aaron Sorkin, que encontra dificuldades para criar a atmosfera densa para contar a história que criou. A sorte é que isso não afeta o trabalho dos seus atores, que estão muito muito bem em cena, especialmente Nicole que desconstrói a imagem que temos da atriz envolta na personagem que Lucille imortalizou na televisão. I Love Lucy é um destes programas lendários que tinha a audiência fiel de mais de 60 milhões de espectadores por episódio (para se ter ideia o final de Game of Thrones atingiu quase vinte milhões de espectadores). O roteiro mostra outras nuances da estrela, demonstrando o cuidado que ela tinha com cada episódio, seu apreço pela comédia física, sua inteligência em torno da preparação das situações de cada capítulo, sua imaginação fermentando cada ideia. Ao lado disso, está o problema de Sorkin querer abraçar tanta coisa que as ideias sobrepostas fazem com que uma diminua o apelo da outra e, por vezes, o desfecho de cada uma delas não alcança o clímax desejado (um telefonema no final, um lenço sujo no outro, uma papo com as colegas de elenco...) parece que tudo se resolve de forma simples para um roteiro cheio de direcionamentos, entrevistas dramatizadas, flashbacks e contextos políticos, românticos, profissionais... no fim das contas, graças à aprovação da filha de Lucille e Arnaz, fica a sensação de que conhecemos um pouco mais daquele casal real, longe dos personagens da telinha. Nem vou entrar nos méritos da estranha maquiagem da Nicole e da criticada escalação do espanhol Barden para viver um cubano, afinal, acho que o talento de ambos compensa estes tropeços. Ao final da sessão, a principal ideia que fica é como Sendo os Ricardos (a tradução literal do filme calcada na família de Lucy e Ricky Ricardo) proporcionava a Lucille e Arnaz uma vida idealizada do dia, sem os conflitos de quando se deparavam com a realidade do lar ao final do dia.
Being the Ricardos - Apresentando os Ricardos (Being the Ricardos / EUA - 2021) de Aaron Sorkin com Nicole Kidman, Javier Bardem, JK Simmons, Nina Arianda, Alia Shawcat, Tony Hale e Jake Lacy. ☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário